A busca por evidências de vida extraterrestre ganhou novo impulso com a análise de amostras do asteroide Ryugu, coletadas pela missão Hayabusa2. A missão, lançada em 2014 e concluída com o retorno das amostras em 2020, gerou expectativa em torno da hipótese da panspermia – a ideia de que a vida na Terra teve origem extraterrestre e foi trazida por meteoros ou cometas.
A hipótese da panspermia, popularizada nos séculos XIX e XX, ganha força considerando a rápida aparição da vida celular na Terra, logo após o resfriamento do planeta. A complexidade do DNA e das células vivas levanta questionamentos sobre a velocidade da evolução. A panspermia sugere que a vida teria evoluído no espaço ou em outro planeta e, posteriormente, viajado até a Terra em corpos celestes.
A resistência à panspermia reside em diversos fatores. A transição da química orgânica para a biológica pode ser um processo adaptativo, e a aparente rapidez do surgimento da vida na Terra pode ser um fenômeno esperado. A ausência de evidências de vida extraterrestre também dificulta a comprovação da teoria. Além disso, a viabilidade da vida em viagens interestelares, que podem durar bilhões de anos, é questionável, já que a sobrevivência no vácuo espacial é limitada.
A análise das amostras de Ryugu, mantidas em ambiente esterilizado, revelou a presença de estruturas filamentosas e em forma de bastonete, compatíveis com a vida microbiana. No entanto, a equipe de pesquisa encontrou evidências significativas de contaminação terrestre.
A incrível capacidade de adaptação e disseminação da vida microbiana terrestre é um fator crucial. Microrganismos são encontrados em ambientes extremos, como reatores nucleares e fontes termais, e sua capacidade de contaminação é alta, mesmo em ambientes esterilizados. A distribuição de tamanho das estruturas encontradas na amostra de Ryugu é consistente com a vida terrestre, assim como o período de crescimento e declínio observado (cerca de cinco dias).
A pesquisa indica que, apesar dos esforços para manter a esterilidade, a contaminação ocorreu. Se a vida em Ryugu fosse de fato extraterrestre e geneticamente distinta da vida terrestre, sua composição genética, tamanho e taxa de crescimento seriam diferentes. A equipe concluiu que a explicação mais provável é a contaminação da amostra após a coleta.
Apesar de não comprovar a panspermia, o estudo destaca a necessidade de aprimorar os protocolos de esterilização em missões espaciais, sugerindo que a contaminação de outros corpos celestes, como a Lua e Marte, pode ter ocorrido inadvertidamente. Por outro lado, a presença de matéria orgânica em asteroides, capaz de sustentar a vida terrestre, abre possibilidades para a colonização humana do Sistema Solar. A vida na Terra pode não ter se originado no espaço, mas poderá se expandir para além dele.
O estudo completo pode ser acessado aqui: estudo na Wiley Online Library.
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