Um novo estudo da Rede Nossa São Paulo, o Mapa da Desigualdade de São Paulo 2024, lançado na quarta-feira (27), revela disparidades chocantes na expectativa de vida na capital paulista, dependendo da localização geográfica. A pesquisa, baseada em dados oficiais do poder público, analisou 10 indicadores em cada um dos 96 distritos da cidade, incluindo saúde, habitação, trabalho e renda, mobilidade, direitos humanos, cultura, esportes, infraestrutura digital, segurança pública e meio ambiente.
A diferença mais impactante é observada na expectativa de vida. Enquanto o distrito de Alto de Pinheiros registra uma média de 82 anos, em Anhanguera, a média de idade ao morrer é de apenas 58 anos – uma diferença alarmante de 24 anos. Este abismo, segundo a coordenadora de Gestão do Conhecimento do Instituto Cidades Sustentáveis, Clara Cabral, é um indicador crucial, refletindo diversas outras desigualdades. “É muito parecido com o gráfico da gravidez na adolescência“, compara Clara, ressaltando que a discrepância na expectativa de vida demonstra a ineficiência das políticas públicas em alcançar a população mais vulnerável, um cenário que, segundo ela, persiste desde 2006.
O relatório também destaca a disparidade na incidência de favelas. Enquanto Vila Andrade concentra 35% dos domicílios em favelas, dez distritos – Alto de Pinheiros, Perdizes, Jardim Paulista, Moema, Bela Vista, Sé, República, Consolação, Cambuci e Bom Retiro – não apresentam nenhuma comunidade deste tipo. Essa segregação espacial impacta diretamente outros indicadores, como a violência contra a mulher. Clara Cabral enfatiza a necessidade de interpretação cuidadosa dos dados, considerando a distribuição desigual de delegacias. Comparando Vila Andrade (132,94 pontos no indicador de violência contra a mulher) com a Sé (881,92 pontos), a especialista alerta que a maior concentração de delegacias na zona central pode distorcer os números, resultando em uma vítima tendo, dependendo da sua localização, 6,6 vezes mais dificuldade para registrar uma queixa e interromper o ciclo de violência.
As taxas de homicídio também demonstram uma disparidade significativa. A Barra Funda apresenta uma taxa de 18,16, enquanto Campo Limpo registra apenas 0,36, representando uma diferença de 51 vezes. Embora haja uma redução geral nas ocorrências, a discrepância entre os distritos permanece alarmante. Esse contraste se repete no indicador de violência racial, com Barra Funda registrando 18,36 e Campo Limpo 0,36 por cada 10 mil habitantes.
O coordenador-geral da Rede Nossa SP, Jorge Abrahão, resume a situação como um “ciclo perverso de desigualdade na cidade“. Ele destaca que fatores como tempo excessivo em transporte público, falta de acesso à internet e precárias condições de habitação contribuem para reduzir não só a expectativa de vida dos moradores de áreas periféricas, mas também suas oportunidades de interação social, acesso a equipamentos culturais e atividades de lazer. O relatório completo está disponível em seu site.
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