A Cinemateca Brasileira anunciou, na última quarta-feira (27), um ambicioso projeto de recuperação e digitalização do acervo do Canal 100. Considerado o maior acervo cinematográfico sobre futebol no Brasil, o projeto abrange um período significativo da história do país, entre 1959 e 1986.
Criado em 1957 pelo cineasta Carlos Niemeyer, o Canal 100 foi um pioneiro do cinejornalismo brasileiro, revolucionou a cobertura esportiva e cultural no Brasil, tornando-se um marco na história audiovisual do país
, segundo comunicado oficial da Cinemateca. Além de registrar jogos históricos, o acervo também documenta aspectos relevantes da vida social e cultural brasileira da época, sendo exibido nos cinemas antes das sessões de longa-metragem.
O projeto de recuperação do Canal 100 envolve um acervo monumental: cerca de 21.793 segmentos de notícias, distribuídos em 8.044 latas e complementados por 15.252 folhas de documentos textuais. O material inclui imagens positivas em cores e preto e branco, além de negativos originais de imagem e som. A instituição destaca que apenas uma pequena parte desse material está atualmente digitalizada.
O projeto não se limita à preservação. A equipe do Canal 100, liderada por Niemeyer, inovou em técnicas de filmagem, utilizando close-ups e ângulos dinâmicos para aproximar o público da ação em campo. Tal inovação contou com o trabalho de talentosos cinegrafistas como Francisco Torturra, Liercy de Oliveira, João Rocha e Pompilho Tostes, além das vozes marcantes de narradores como Cid Moreira e Corrêa Araújo.
A digitalização completa do acervo exige um investimento significativo. Com um custo total estimado em R$ 22,7 milhões, o projeto já assegurou 40% do financiamento, com o apoio do Instituto Cultural Vale, Shell e Itaú. Entretanto, a Cinemateca busca novos apoiadores para concluir a iniciativa, que inclui a análise, digitalização e difusão do conteúdo para o público, além da modernização da infraestrutura de preservação audiovisual da instituição.
O acervo do Canal 100 ficou muito tempo guardado em função de todas as crises da Cinemateca e agora, então, nós estamos com o projeto no Pronac [Programa Nacional de Apoio à Cultura], e já conseguimos captar uma boa parte que nos permitiu iniciar esse processo de verificação do material
, explicou Maria Dora Mourão, diretora geral da Cinemateca.
A diretora destacou a importância do diálogo com a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura: Quando há pessoas que dialogam e que lutam junto, isso nos dá um certo alívio e um otimismo. Acho que é importante manter o otimismo para que as coisas realmente aconteçam.
O processo de recuperação inclui a duplicação fotoquímica de centenas de rolos de filmes para garantir a preservação a longo prazo; a digitalização de 30 horas de cinejornais; e a aquisição de equipamentos para facilitar o acesso gratuito ao conteúdo digitalizado, que será disponibilizado no Banco de Conteúdos Culturais da Cinemateca. Gabriela Sousa de Queiroz, diretora técnica da Cinemateca, afirmou que o objetivo é entregar o acervo devidamente catalogado, digitalizado e duplicado fotoquimicamente até 2026, quando se comemora 40 anos das suas últimas edições, a gente vai devolvê-lo para a sociedade
.
A diretora técnica também destacou o estado de deterioração do acervo ao chegar à Cinemateca em 2011: Quando o acervo chega [à Cinemateca] em 2011, a gente tinha o indicativo de 65% a 70% de materiais com algum sinal de deterioração, de um universo de mais de 8 mil latas de filmes de 35 milímetros, mais ou menos 20 mil segmentos de notícias, não só futebol, mas coluna social, toda história política da segunda metade do século 20 no Brasil e no mundo, no contexto do golpe de 1964, as lutas pela redemocratização, todo o contexto de Guerra Fria
. Para 2026, ano da próxima Copa do Mundo, está prevista uma grande mostra itinerante de filmes sobre futebol, incluindo trechos do Canal 100.
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