A ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, classificou a COP29 em Baku, Azerbaijão, como uma “experiência difícil”. Em seu discurso final na plenária, neste sábado (23), ela enfatizou a necessidade de um resultado minimamente aceitável, dada a urgência da crise climática. “É fundamental, sobretudo após a difícil experiência que estamos tendo aqui em Baku, chegar a um resultado minimamente aceitável para todos nós, diante da emergência que estamos vivendo.” A declaração reflete a complexidade das negociações, que se estenderam além do prazo previsto, até a tarde de sexta-feira (22).
Um dos principais entraves foi o financiamento climático. Países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, demandam aportes significativos dos países ricos até 2035 para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. A proposta inicial de US$ 280 bilhões até 2035 evoluiu para US$ 300 bilhões anuais, mas ainda encontra resistência, considerando que a proposta inicial dos países em desenvolvimento era de US$ 1 trilhão. Marina Silva utilizou uma metáfora para descrever a situação: “Nós, que somos mães, se ficássemos apenas olhando para o processo das dores de parto, talvez a gente não olhasse com tanta ternura para a criança. Então, aqui [em Baku], ainda estamos esperando a criança nascer. E se nascer, temos a oportunidade de olhar o processo difícil, como algo que valeu a pena. Estamos no processo.”
A ministra também abordou a possível influência da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos na agenda climática global. Ela reiterou o convite para que os EUA se comprometam com a redução de gases de efeito estufa, afirmando: “Não paramos quando os Estados Unidos não entraram no protocolo de Kyoto e no Acordo de Paris mas também não deixamos de reconhecer que é um prejuízo muito grande, não só para os países em desenvolvimento, os desenvolvidos que estão nessa agenda, mas um prejuízo para toda a humanidade, inclusive um prejuízo político porque o povo americano está sofrendo as consequências dos eventos climáticos extremos que estão ficando cada vez mais frequentes e intensos.”
A próxima COP, em Belém (PA), em novembro de 2025, foi denominada por Marina Silva como a “COP das COPs”, considerando a importância simbólica da Amazônia e o desafio de restaurar o que se perde com eventos climáticos extremos. “Fazer da COP30, no território tão simbólico da Amazônia, o momento da vida para restaurar tudo aquilo que parece que estamos perdendo, a cada situação extrema que estamos enfrentando, é um dos maiores desafios que temos pela frente”, previu.
A saída de delegações de pequenos Estados insulares e países em desenvolvimento da sala de negociações, em protesto contra a redação do documento final, que não contemplava as necessidades dos países mais vulneráveis, gerou preocupação. Marina Silva destacou o esforço para que todos retornem ao diálogo: “Assumimos não deixar ninguém para trás. Todos estamos imbuídos que voltemos todos ao processo da negociação para que possamos contemplar aqueles objetivos estratégicos que são colocados por cada grupo, principalmente quando se trata de países e segmentos tão vulneráveis diante do problema da mudança do clima”.
O Brasil reforça seu compromisso com as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), buscando metas ambiciosas para atingir a meta de 1,5°C de aumento da temperatura. “Até a COP30, nosso objetivo central passa a ser alinhar NDCs suficientemente ambiciosas para alcançar a missão 1,5 grau Celsius (ºC).” A viabilização dos meios para implementar esses compromissos é crucial, segundo a ministra. Finalmente, a COP29 alcançou um acordo sobre as regras para um mercado global de créditos de carbono, ferramenta importante para reduzir as emissões de gases de efeito estufa através de medidas como a substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis e o reflorestamento.
Marina Silva também ressaltou a importância do alinhamento com o Acordo de Paris, reforçando que os recursos buscados pelos países em desenvolvimento não são para benefício próprio, mas para o bem de todos, e que os países desenvolvidos têm obrigações, de acordo com o Acordo de Paris, de fazer esses aportes que ajudem a alavancar recursos privados. “Mas, é preciso garantir aquilo que é essencial e que assegure, também, uma base para países mais vulneráveis fazerem já suas transições e suas adaptações”.
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