Morte de estudante de medicina reforça debate sobre abordagem policial em São Paulo

Um jovem estudante de medicina, Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, foi morto durante uma abordagem policial na madrugada de quarta-feira (20) na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. O caso gerou indignação e reacendeu o debate sobre o uso da força letal pelas autoridades.

Segundo informações da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), Acosta teria golpeado uma viatura, tentado fugir e, durante a abordagem, “investido” contra os policiais. A versão da SSP, porém, contrasta com imagens de câmeras de segurança de um hotel próximo ao local do ocorrido.

As imagens mostram Acosta sem camisa no saguão do hotel. Um policial, identificado como Guilherme Augusto Macedo, o agarra pelo braço. O jovem tenta se soltar enquanto outro policial o chuta. Em seguida, Macedo dispara à queima-roupa, atingindo Acosta, que cai imediatamente. A gravação não mostra Acosta agredindo os policiais, apenas tentando se afastar da abordagem.

O ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Cláudio Silva, classificou a morte como uma “tragédia anunciada”, afirmando que a abordagem policial não seguiu os protocolos internos da Polícia Militar (PM) quanto ao uso gradativo da força. “Tragédias como essa com o jovem estudante de medicina, são tragédias anunciadas. Essa sucessão de erros praticados pelos policiais que atendiam a ocorrência, demonstra que caiu a profissionalização da nossa PM e, quando isso ocorre, absolutamente ninguém está protegido: é um tipo de violência que pode chegar a todas as classes sociais”, declarou Silva.

O ouvidor também criticou a narrativa da SSP. “Existem outros protocolos a serem adotados antes da decisão de puxar o gatilho, neste caso contra um jovem que estava sem camisa e não oferecia qualquer risco à integridade física dos policiais, inclusive porque fugia da abordagem, diferente do que diz nota da SSP, que afirma que ele ‘investiu contra os policiais’, quando o vídeo mostra que ele fugia da abordagem, por razões que não vamos saber quais são”, ressaltou. Ele ainda pontuou que “o que já era assustador para os pobres e periféricos, agora se apresenta também como ameaça à vida dos que pertencem às camadas mais abastadas da nossa sociedade. A ideologia de vingança, truculência e morte atinge a todos, sem distinção de classe ou raça.”

Acosta foi socorrido e levado ao Hospital Ipiranga, mas não resistiu ao ferimento. A Associação Atlética Acadêmica Medicina Anhembi Morumbi divulgou nota lamentando a morte e expressando solidariedade à família e amigos. “Neste momento de imensa dor, nos solidarizamos com seus familiares, companheiros de time e colegas, que perderam não apenas um companheiro de jornada, mas também um amigo. Que sua memória seja sempre lembrada com carinho e que sua trajetória inspire a todos nós”, diz o comunicado.

O caso está sendo investigado. A PM abriu um inquérito interno para apurar as circunstâncias da morte, enquanto a família de Acosta busca justiça. A discrepância entre a versão da SSP e as imagens de segurança levanta sérias questões sobre a transparência e a responsabilidade policial em casos de uso de força letal. O episódio reforça a necessidade de uma revisão dos protocolos de abordagem e treinamento da PM, visando a redução da violência e o respeito aos direitos humanos.