O empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, manifestou-se nesta quinta-feira (14) sobre a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que propõe o fim da escala de trabalho 6×1. A medida, apresentada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL), sugere mudanças na jornada semanal, onde atualmente os trabalhadores têm um dia de descanso a cada seis dias de trabalho. Hang, por outro lado, trouxe considerações pessoais sobre os possíveis impactos dessa proposta para o setor empresarial e para a economia do país.
Em sua declaração, Hang destacou que o debate em torno da jornada 6×1 estaria criando uma “polêmica onde não precisa” e destacou que a medida pode “impactar diretamente a vida dos trabalhadores e também a sustentabilidade das empresas.” Segundo ele, a proposta de mudança na escala 6×1 desvia o foco de problemas mais urgentes e pode acarretar prejuízos econômicos, afetando tanto os empresários quanto os trabalhadores. Hang apontou que a medida pode gerar aumento nos custos e, consequentemente, impactar no preço dos produtos.
Luciano Hang também relembrou, no comunicado, de um diálogo com uma colaboradora da Havan, ocorrido durante a inauguração de uma loja no Rio Grande do Sul, que preferiu manter a estabilidade no emprego a ter mais folgas. “Prefiro trabalhar aos domingos do que pedir emprego na segunda-feira”, relatou a funcionária, de acordo com o empresário, que acredita que a maioria dos colaboradores busca, acima de tudo, segurança no trabalho e estabilidade de renda.
Segundo Hang, uma mudança na jornada 6×1 geraria um custo adicional de 70%, conforme levantamento realizado pela equipe de Recursos Humanos da empresa. Ele ressalta que o aumento de custos seria repassado aos consumidores, o que contribuiria para o aumento da inflação e prejudicaria o poder de compra das famílias, especialmente as de menor renda.
“Na realidade, os empresários são meros repassadores de custos e isso recai sobre a população que perde parte do valor real dos salários. Até porque é praticamente impossível diminuir a jornada de trabalho sem reduzir os salários”, afirmou o empresário, destacando que, na sua visão, a situação no Brasil difere de outros países, como os Estados Unidos, onde, segundo ele, há menor intervenção estatal.
Além disso, Hang apontou para a dificuldade de encontrar mão de obra no mercado, que já enfrenta escassez de profissionais. “Hoje o mercado não conta com mão-de-obra disponível. Com 6% de desemprego, muito dessa falta de colaborador é impactada por problemas das ajudas governamentais, em que as pessoas não querem mais trabalhar com carteira assinada”, completou o empresário, que considera que as políticas assistenciais reduzem a motivação para o emprego formal.
Por fim, Hang afirmou que “não se pode resolver os problemas das pessoas com uma canetada”, destacando que um aumento do salário mínimo só seria viável com crescimento na produtividade e investimento em qualificação profissional.
A seguir, confira o comunicado de Luciano Hang na íntegra:
Nota Oficial de Luciano Hang
Tenho acompanhado as discussões em torno da jornada de trabalho 6×1 e vejo que estão criando uma polêmica onde não precisa. Os parlamentares deveriam estar mais preocupados em solucionar os problemas já existentes ao invés de criar uma nova situação que pode impactar diretamente a vida dos trabalhadores e também a sustentabilidade das empresas.
O brasileiro não quer trabalhar menos, ele quer, acima de tudo, viver melhor, com mais conforto, mais segurança, saúde, educação e independência. Quer ter uma melhor condição de vida e não viver de esmolas do Estado.
Ao conversar com nossos colaboradores, percebo que a maioria deseja oportunidades para trabalhar, crescer e se desenvolver. Recentemente, na inauguração de uma loja Havan no Rio Grande do Sul, uma colaboradora me disse: “Prefiro trabalhar aos domingos do que pedir emprego na segunda-feira”. Esse comentário reflete aquilo que as pessoas querem, que é a segurança de uma renda fixa e um ambiente de trabalho estável.
Nossa equipe de Recursos Humanos fez um levantamento que apontou que, uma possível mudança na jornada 6×1, geraria um custo adicional de 70%. Isso de uma hora para a outra. O que não afetaria apenas as empresas, mas também os consumidores, que enfrentariam preços mais altos. E sabemos que quando a inflação aumenta, impacta nos preços dos produtos, destruindo o poder de compra das famílias, especialmente as de menor renda.
Na realidade, os empresários são meros repassadores de custos e isso recai sobre a população que perde parte do valor real dos salários. Até porque é praticamente impossível diminuir a jornada de trabalho sem reduzir os salários.
Se nós, na Havan, trabalhamos com 6×1, para eu fazer uma jornada 4×3 precisaria colocar outro turno. Mas, com isso, surge um novo problema, porque hoje o mercado não conta com mão-de-obra disponível. Com 6% de desemprego, muito dessa falta de colaborador é impactada por problemas das ajudas governamentais, em as pessoas não querem mais trabalhar com carteira assinada.
Falo sempre que nos Estados Unidos, por exemplo, não tem nada disso. Não tem o Estado tutelando toda a economia. E eu pergunto: hoje tem mais brasileiros indo trabalhar nos EUA ou tem mais americanos querendo trabalhar no Brasil?
Em vez de discussões populistas, que servem para dividir a população em contra e a favor, colocando as pessoas contra os empresários, acredito que o foco deveria ser construir caminhos para garantir a estabilidade e o desenvolvimento para todos.
Não se pode resolver os problemas das pessoas com uma canetada. Isso é posição de burocratas. Afinal, se fosse tão simples assim, bastaria, por exemplo, aumentar o salário mínimo para R$ 10 mil por mês que todos comeriam picanha e viajariam para o exterior nas férias. Só que, na prática, um salário maior requer uma produtividade também maior. Isso só ocorre com educação e qualificação do profissional.
Novamente, o que vemos é uma polêmica desproporcional, onde estes parlamentares estão desconexos com a realidade dos problemas do Brasil.
Tramitação da PEC e próximos passos
A PEC que propõe o fim da escala 6×1 iniciou oficialmente sua tramitação na Câmara após atingir as assinaturas mínimas. A autora da proposta, deputada federal Erika Hilton, creditou o sucesso da proposta à “mobilização da sociedade”.
A tramitação da PEC passa por etapas na Câmara, começando pela Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJ), onde será analisada sua admissibilidade. A proposta, caso considerada admissível pela CCJ, segue para uma comissão especial, onde pode sofrer alterações e recebe um prazo de 40 sessões para votação.
Após essa análise, a PEC segue para votação no Plenário da Câmara, onde precisará de aprovação de 3/5 dos deputados, o que corresponde a 308 votos, em dois turnos de votação. Caso o texto seja aprovado na Câmara, seguirá para o Senado Federal, onde passará pelo mesmo processo de análise e votação em dois turnos. Em caso de mudanças substanciais feitas pelo Senado, a proposta retornará à Câmara para nova apreciação.
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