O Ministério Público Federal (MPF) apresentou denúncia contra três cidadãos italianos e seis brasileiros, acusados de envolvimento em uma rede de lavagem de dinheiro e organização criminosa internacional ligada à Cosa Nostra, a famosa máfia italiana. A operação, batizada de Operação Arancia, foi o resultado de uma longa investigação de uma Equipe Conjunta de Investigação (ECI), composta por autoridades brasileiras e italianas. O foco da operação estava nas atividades da Cosa Nostra em território brasileiro, especificamente no Rio Grande do Norte e na Paraíba.
De acordo com as investigações conduzidas pelo MPF, o esquema de lavagem de dinheiro no Brasil envolvia o uso de empresas de fachada e indivíduos conhecidos como “laranjas” para ocultar a origem ilícita dos valores. O dinheiro teria sido obtido a partir de crimes como tráfico de drogas, extorsão e homicídios, cometidos pela máfia.
“A organização edificou no Brasil uma estrutura complexa e extremamente organizada mediante dezenas de empresas de fachada, que movimentou milhões de reais através de pessoas sem lastro financeiro compatível (laranjas), as quais estavam sob o comando dos três líderes italianos mafiosos da Cosa Nostra no território brasileiro“, afirma a denúncia do MPF.
Esquema milionário
As autoridades estimam que o grupo tenha movimentado, desde 2009, cerca de R$ 300 milhões (equivalente a 50 milhões de euros) em ativos ilícitos. No entanto, conforme o relato de fontes italianas, o valor total dos recursos investidos pela máfia no Brasil pode ultrapassar 500 milhões de euros, ou seja, mais de R$ 3 bilhões.
Entre os bens identificados como fruto dessa operação criminosa, destacam-se um restaurante de luxo em Natal (RN), imóveis em Cabedelo (PB), uma casa de luxo em um resort de Bananeiras (PB), além de um grande empreendimento imobiliário em Extremoz (RN), todos financiados com recursos oriundos do tráfico de drogas e extorsão, crimes comuns na cidade de Palermo, na Itália.
Prisões e ações judiciais
Dos três líderes mafiosos denunciados, dois já estão presos: Giuseppe Calvaruso, que se encontra sob custódia na Itália, e Pietro Lagodana, que cumpre pena no Presídio Estadual de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte. O terceiro líder, Giuseppe Bruno, foi preso no Brasil em agosto deste ano, como resultado da Operação Arancia.
Na última terça-feira (17), a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) negou o pedido de habeas corpus de Giuseppe Bruno, que permanecerá detido aguardando o julgamento.
Além dos três líderes italianos, a denúncia inclui seis brasileiros, todos acusados de integrar a organização criminosa em diferentes períodos. Entre os denunciados, estão também companheiras dos líderes italianos, envolvidas nas operações da máfia no Brasil. O MPF solicitou à Justiça a manutenção da prisão preventiva dos acusados, com o intuito de evitar qualquer tentativa de fuga ou interferência nas investigações.
Operação Arancia e cooperação internacional
A Operação Arancia, deflagrada em 13 de agosto deste ano, teve uma dimensão internacional. No Brasil, foram cumpridos o mandado de prisão preventiva de Giuseppe Bruno e cinco mandados de busca e apreensão nos estados do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Piauí. Paralelamente, a Direção Distrital Antimáfia de Palermo coordenou buscas em várias regiões da Itália e até mesmo na Suíça, mobilizando mais de cem agentes financeiros italianos. As investigações envolveram uma complexa rede de cooperação internacional entre o MPF, a Polícia Federal, a Procuradoria de Palermo, a polícia italiana e a Eurojust, agência europeia para cooperação judicial penal.
A constituição da Equipe Conjunta de Investigação seguiu as diretrizes da Convenção de Palermo, o principal tratado global de combate ao crime organizado transnacional. O MPF/RN liderou a coordenação das ações no Brasil, ao lado da Polícia Federal, garantindo que o país cumprisse seu papel no combate à máfia italiana.
A denúncia foi aceita pela 14ª Vara da Justiça Federal no Rio Grande do Norte, sob o número 0810121-29.2022.4.05.8400.
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