Com a tecnologia cada vez mais presente em nossas vidas, o uso de dispositivos digitais tornou-se algo comum no cotidiano, tanto para adultos quanto para crianças. Contudo, uma nova pesquisa publicada no JAMA Pediatrics acende um sinal de alerta para os pais de crianças pequenas.
O estudo aponta que bebês que são expostos excessivamente às telas correm um risco duas vezes maior de apresentar atrasos no desenvolvimento motor, além de prejudicar a linguagem e as habilidades sociais.
De acordo com a pesquisa, os efeitos mais críticos são observados entre os 2 e 4 anos, uma fase de desenvolvimento essencial para a criança. Durante esse período, é comum que os pequenos adquiram suas primeiras habilidades motoras e sociais. Contudo, a exposição prolongada a telas pode interferir diretamente nesse processo, limitando as interações com o ambiente e o desenvolvimento pleno.
O N10 Notícias conversou com Walkíria Brunetti, fisioterapeuta especializada em fisioterapia neurológica para bebês e crianças, que explicou as razões pelas quais as telas podem ser prejudiciais nessa fase crucial. Segundo a especialista, “tempo prolongado de tela tira da criança oportunidades de brincadeiras e atividades que são essenciais para o seu desenvolvimento. O bebê e as crianças maiores precisam do movimento, das interações com o ambiente, das brincadeiras com outras crianças e com os adultos, para que possam se desenvolver de forma plena”. Essas experiências são necessárias para que os bebês desenvolvam coordenação motora e habilidades sociais, o que se torna limitado quando eles estão diante de uma tela.
Impacto da falta de estímulo motor
O desenvolvimento da coordenação motora se inicia nos primeiros meses de vida e se aprimora ao longo da infância. Há dois tipos de coordenação motora: a grossa e a fina.
Walkíria Brunetti detalha que a ausência de estímulos físicos durante o uso de dispositivos digitais faz com que a criança perca a oportunidade de fortalecer a coordenação motora. “A coordenação motora grossa depende de movimentos que utilizam grandes grupos musculares, como aqueles necessários para firmar a cabeça, sentar-se, engatinhar e caminhar. Quando a criança passa muito tempo em frente a uma tela, ela perde a chance de treinar esses músculos essenciais“, explica a fisioterapeuta.
A especialista acrescenta: “A coordenação motora fina, por outro lado, envolve movimentos mais delicados e específicos, como segurar objetos pequenos, pintar, desenhar e recortar. Esses são movimentos essenciais para o desenvolvimento de habilidades que a criança usará em tarefas cotidianas, como escrever e manusear utensílios“. Sem estímulos adequados, o desenvolvimento dessas habilidades pode ser gravemente afetado.
Recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) sobre uso de telas
Diante desse cenário preocupante, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) estabeleceu diretrizes claras para o uso de dispositivos eletrônicos por crianças, destacando a importância de limitar o tempo de tela e sempre assegurar a supervisão de um adulto. As recomendações incluem:
- Crianças menores de 2 anos: nenhum contato com telas ou videogames;
- Crianças de 2 a 5 anos: até 1 hora por dia;
- Crianças de 6 a 10 anos: entre 1 e 2 horas por dia;
- Adolescentes de 11 a 18 anos: entre 2 e 3 horas diárias.
Essas diretrizes visam reduzir os impactos negativos do uso prolongado de dispositivos eletrônicos e garantir que as crianças possam explorar atividades mais saudáveis e interativas, fundamentais para seu desenvolvimento neuropsicomotor.
Atividades para estimular a coordenação motora
Além de limitar o uso de telas, é fundamental incentivar as crianças a realizarem atividades que promovam o desenvolvimento motor. Walkíria Brunetti sugere uma série de brincadeiras que podem ser feitas em casa ou ao ar livre, ajudando no fortalecimento tanto da coordenação motora grossa quanto da coordenação motora fina.
Atividades para a coordenação motora grossa
- Pular amarelinha;
- Andar de bicicleta, patins ou skate;
- Pular corda;
- Jogar bola;
- Participar de corridas de obstáculos.
Essas atividades não apenas estimulam o desenvolvimento dos músculos maiores, como também promovem o equilíbrio, a força e a agilidade, fatores essenciais para o crescimento saudável.
Atividades para a coordenação motora fina
- Pintar
- Desenhar
- Recortar (com supervisão de um adulto)
- Comer sozinha
- Segura o próprio copo
- Brincar de massinha
- Brincar de blocos de encaixar
- Tirar e colocar tampas em potes
- Abrir e fechar botões
- Escolher feijão ou tirar e colocar os feijões dentro de potes
- Montar quebra-cabeças
- Bafo (brincadeira com figurinhas)
- Três Marias
- Fazer pulseiras e outros acessórios com miçangas
- Pega varetas
- Aprender a tocar instrumentos musicais
Essas brincadeiras auxiliam na coordenação motora fina, fundamental para o desenvolvimento de habilidades que a criança usará ao longo da vida, como segurar um lápis ou realizar movimentos precisos.
O papel dos pais e cuidadores
Walkíria destaca a importância de os pais estarem cientes dos impactos das telas no desenvolvimento infantil e de buscarem alternativas para reduzir o tempo de exposição. “Atualmente, com todo o conhecimento que temos sobre os prejuízos das telas, é essencial que os pais sejam mais conscientes. O uso moderado de dispositivos e a substituição por atividades lúdicas podem contribuir significativamente para o desenvolvimento motor das crianças“, afirma a especialista.
Ela ressalta que brincadeiras tradicionais e interações com outras crianças são essenciais para estimular o desenvolvimento neuropsicomotor. “Toda brincadeira conta. Quanto mais as crianças se movimentarem e interagirem com o ambiente, melhor será seu desenvolvimento”, conclui Walkíria.
Quer receber as principais notícias do Portal N10 no seu WhatsApp? Clique aqui e entre no nosso canal oficial.