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Regiões brasileiras com muita poluição registram mais casos de bebês com baixo peso

O levantamento aponta a necessidade urgente de políticas de controle de qualidade do ar e de estratégias focadas em reduzir desigualdades regionais, a fim de proteger a saúde de gestantes e bebês.

Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros revelou uma conexão direta entre poluição atmosférica e o baixo peso ao nascer de bebês no país. O artigo, intitulado “Poluição atmosférica ambiental e baixo peso ao nascer no Brasil” e publicado na revista Chemosphere, reuniu dados de mais de 10 milhões de nascimentos registrados entre janeiro de 2001 e dezembro de 2018, tornando-se a primeira pesquisa em escala nacional a abordar essa relação.

A análise verificou que a exposição materna a poluentes atmosféricos, especialmente ao dióxido de nitrogênio (NO2), ao ozônio (O3) e a partículas finas PM2,5, está associada a um maior risco de o bebê nascer com peso abaixo do recomendado. A pesquisa revela que essa influência varia de acordo com a região do país e que bebês do sexo masculino são mais afetados pela exposição à poluição.

No Nordeste, por exemplo, o dióxido de nitrogênio foi um dos poluentes com maior impacto nos nascimentos com baixo peso.

Abordagem metodológica e dados analisados

A equipe de pesquisadores analisou 10.213.144 registros de nascimentos, abrangendo informações detalhadas, como sexo da criança, peso ao nascer, idade e raça da mãe, além de estado civil, município de origem, número de consultas pré-natais e nível educacional.

Essas informações foram organizadas para capturar a diversidade geográfica e socioeconômica do Brasil, onde fatores como disparidades regionais e variação no acesso à saúde influenciam os resultados. A coleta de dados considerou também o histórico do último ciclo menstrual da mãe e o tempo gestacional, oferecendo um retrato abrangente das condições materno-infantis em todo o país.

Estudo detecta relacao entre baixo peso de recem nascidos e poluicao atmosferica
Baixo peso de recém-nascidos (expresso em porcentagem) para cada município do Brasil

Para mapear a probabilidade de baixo peso ao nascer, os pesquisadores usaram modelos de regressão logística, separando as informações por trimestres gestacionais (conhecido como análise estratificada). Esse processo possibilitou a identificação de riscos específicos em cada fase da gravidez e foi crucial para compreender como a exposição a poluentes afeta o desenvolvimento fetal ao longo dos diferentes períodos gestacionais. “A divisão por trimestres gestacionais foi essencial para mapear as vulnerabilidades e ajustar as estratégias regionais de saúde“, afirmaram os autores.

Distribuição regional dos casos de baixo peso ao nascer

Durante o período de 2001 a 2018, a pesquisa observou que aproximadamente 4,92% dos nascidos vivos (equivalente a 479.204 bebês) apresentaram peso abaixo do ideal ao nascer. A região Sudeste registrou a maior proporção de casos, com 4,88% dos nascimentos (192.372 bebês), enquanto o índice mais baixo foi identificado no Centro-Oeste, com 4,13%. Nas demais regiões, os índices foram bastante próximos: Norte e Nordeste apresentaram uma taxa de 4,66% cada, e a região Sul, 4,69%.

Entre os estados brasileiros, Minas Gerais (MG), Maranhão (MA), Bahia (BA), Acre (AC) e Alagoas (AL) tiveram as maiores proporções de nascimentos com baixo peso, com índices de 5,53%, 5,25%, 5,17%, 5,03% e 5,01%, respectivamente. Os pesquisadores destacaram que fatores como topografia, padrões climáticos e circulação atmosférica são determinantes para essas variações regionais, principalmente nas áreas onde há uma combinação de condições atmosféricas que favorecem o acúmulo de poluentes e atividades industriais intensivas.

Regiões brasileiras com muita poluição registram mais casos de bebês com baixo peso
Dados referentes aos nascimentos em cada estado brasileiro entre 2001 e 2018

Implicações para políticas públicas e equipe responsável pelo estudo

A pesquisa foi realizada por uma equipe interdisciplinar, que inclui Julia Placido Moore, Reizane Maria Damasceno da Silva e Weeberb J. Requia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mariana Andreotti Dias e Francisco Jablinski Castelhano, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e Leonardo Hoinaski, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Para a pesquisadora Mariana Andreotti Dias, que atua no Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem/UFRN) e realiza estágio pós-doutoral na instituição, os resultados do estudo são fundamentais para o desenvolvimento de políticas públicas regionais. “Este estudo fornece informações valiosas para estratégias específicas das regiões para melhorar a saúde materna e neonatal“, afirmou.

O levantamento aponta a necessidade urgente de políticas de controle de qualidade do ar e de estratégias focadas em reduzir desigualdades regionais, a fim de proteger a saúde de gestantes e bebês. Os dados fornecidos pelo estudo poderão orientar ações preventivas e direcionadas, minimizando a exposição das gestantes aos poluentes e, com isso, contribuindo para a redução dos índices de recém-nascidos com baixo peso em áreas mais afetadas pela poluição.

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Rafael Nicácio

Co-fundador e redator do Portal N10, sou responsável pela administração e produção de conteúdo do site, consolidando mais de uma década de experiência em comunicação digital. Minha trajetória inclui passagens por assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (ASCOM) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde atuei como estagiário.Desde 2013, trabalho diretamente com gestão de sites, colaborando na construção de portais de notícias e entretenimento. Atualmente, além de minhas atividades no Portal N10, também gerencio a página Dinastia Nerd, voltada para o público geek e de cultura pop.MTB Jornalista 0002472/RNE-mail para contato: rafael@oportaln10.com.br

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