Um mutirão de cirurgias de catarata realizado em Parelhas, no Rio Grande do Norte, resultou em uma grave infecção bacteriana que afetou 15 pacientes, todos idosos. Oito deles tiveram complicações severas, precisando remover um dos olhos após serem contaminados pela bactéria Enterobacter cloacae, organismo presente no intestino humano, mas que, em contato com os olhos, pode gerar infecções perigosas.
As cirurgias aconteceram nos dias 28 e 29 de setembro em uma maternidade local, sendo a primeira vez que este tipo de procedimento foi feito diretamente na cidade.
De acordo com a Secretaria de Saúde do município, o mutirão foi uma iniciativa da prefeitura para evitar que os pacientes precisassem se deslocar para cidades vizinhas, como era feito anteriormente. “Realizamos cerca de 330 procedimentos desde maio de 2022, sem problemas. Apenas nesse mutirão houve complicações“, explicou o secretário de Saúde de Parelhas, Tiago Tibério dos Santos.
Ele também informou que dos 15 afetados, “oito precisaram remover o globo ocular, quatro passaram por uma vitrectomia e três estão sendo acompanhados por oftalmologistas.”
O caso chamou a atenção porque foi o primeiro mutirão desse tipo de cirurgia feito dentro da cidade, que não possui hospital: nos casos anteriores, os pacientes eram levados para cidades maiores.
Investigação em andamento
As vítimas da infecção estão sendo atendidas no Hospital Universitário Onofre Lopes, em Natal, onde algumas seguem internadas após a remoção do olho. A situação despertou grande preocupação, uma vez que a infecção ocorreu em um mutirão que foi planejado para proporcionar comodidade aos pacientes.
A empresa responsável pela realização das cirurgias, a Oculare Oftalmologia Avançada Ltda., contratada por meio de licitação, declarou em nota que “os procedimentos foram realizados por oftalmologistas experientes e seguiram todos os protocolos médicos e de segurança exigidos“. A Oculare ainda garantiu que está cooperando com as autoridades para apurar a origem da contaminação.
A prefeitura informou que a empresa receberia R$ 59 mil pela realização de 48 cirurgias, mas o pagamento foi suspenso até que as investigações sejam concluídas. Segundo o município, “a prioridade era reduzir a fila de espera por cirurgias oftalmológicas, não havendo relação com o calendário eleitoral“, em referência à proximidade com as eleições municipais, nas quais o atual prefeito, Tiago Almeida (PSDB), foi reeleito.
A infecção bacteriana por Enterobacter cloacae é considerada rara em cirurgias oftalmológicas, mas, quando ocorre, pode causar danos irreversíveis, como visto no caso dos oito pacientes que perderam a visão. A vitrectomia, realizada em quatro dos infectados, é uma cirurgia que substitui o gel vítreo do olho por uma solução, buscando minimizar os danos causados pela infecção.
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