No Brasil e em diversas regiões da América Latina, a Doença de Chagas continua sendo uma ameaça à saúde pública, com mais de seis milhões de pessoas infectadas. No entanto, menos de 10% desses casos são diagnosticados, de acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Diante desse cenário preocupante, um grupo de cientistas da Escola Multicampi de Ciências Médicas da UFRN (EMCM) busca desenvolver uma vacina capaz de combater a doença.
A Doença de Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi (T. cruzi), é transmitida principalmente por meio do contato com o inseto conhecido popularmente como “barbeiro”, que transmite o parasita para humanos de forma vetorial. Outras formas de contaminação incluem a ingestão de alimentos contaminados (via oral), transmissão de mãe para filho (via vertical), transfusões de sangue e transplantes de órgãos.
O foco do estudo conduzido pela UFRN está no desenvolvimento de uma vacina que visa combater duas proteínas essenciais para o parasita: ASP-2 e gp82. Essas proteínas desempenham papéis fundamentais em diferentes fases do ciclo de vida do T. cruzi, e a ideia por trás do estudo é ensinar o sistema imunológico humano a reconhecer essas proteínas e, assim, combater a infecção de forma eficaz.
O professor João Firmino Rodrigues Neto, que coordena a pesquisa, explica que o trabalho da equipe está baseado na imunoinformática, técnica que usa simulações computacionais para identificar partes específicas das proteínas, chamadas de epítopos, que são capazes de desencadear uma resposta do sistema imunológico. “Selecionamos os epítopos que melhor induziram respostas adequadas contra o parasita”, explica João Neto, detalhando que, após essa fase, o grupo criou um protótipo de vacina que inclui componentes destinados a aumentar sua eficácia.
Após essa fase inicial, os pesquisadores realizaram uma série de simulações virtuais para avaliar a segurança e a eficácia do protótipo vacinal. Os resultados até agora são encorajadores, indicando que a vacina tem potencial para gerar uma resposta imunológica forte, com a produção de anticorpos e ativação de células de defesa.
Apesar dos avanços, o professor João Neto alerta que ainda há um longo caminho até que o protótipo vacinal se torne uma vacina disponível. “Para chegar a uma vacina real, o protótipo precisa ser sintetizado em laboratório e passar por testes in vitro, seguidos de testes em modelos animais, para então se avaliar sua eficácia”, explicou. Segundo o professor, embora o estudo ainda esteja em fases iniciais, os resultados são promissores.
A vacina ainda não foi produzida fisicamente, mas a equipe já simulou sua produção em laboratório, verificando como ela interagiria com os receptores do sistema imunológico. Os resultados das simulações indicam que o imunizante pode se ligar de forma eficiente aos receptores, o que aumentaria a chance de gerar uma resposta imune protetora.
O desenvolvimento dessa vacina representa um avanço significativo no combate à Doença de Chagas, uma enfermidade que, por vezes, não recebe a devida atenção, apesar de afetar milhões de pessoas. O próximo passo da pesquisa será realizar os testes práticos para avaliar se a vacina é capaz de proporcionar a imunidade necessária contra o parasita T. cruzi.
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