(ANSA) – Após anunciar um exercício naval com Irã e China, a Rússia informou que fará treinamentos do tipo em todo o mundo nos meses de janeiro e fevereiro, divulgou o Ministério da Defesa nesta quinta-feira (20).
Com mais de 140 navios, 60 aviões e 10 mil militares, os exercícios serão realizados nos oceanos Atlântico, Pacífico e Ártico e no Mar Mediterrâneo.
“Eles ocorrerão nas águas e mares adjacentes e em zonas de importância operacional nos oceanos do mundo. O principal objetivo é colocar em prática o envio de forças navais, aéreas e espaciais para proteger os interesses russos nos oceanos do mundo e combater as ameaças militares contra a Rússia”, diz ainda o comunicado repercutido pelas agências estatais russas.
Os exercícios ocorrem em um momento de grande tensão entre Rússia, Estados Unidos e Europa, com o temor crescente dos ocidentais de que o Moscou ordene uma invasão militar no território da Ucrânia.
Fala de Biden sobre Ucrânia volta a aumentar tensão com Rússia
As respostas do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre a crise ucraniana durante a coletiva de imprensa desta quarta-feira (19) voltaram a elevar a tensão com a Rússia e surpreenderam até mesmo Kiev pela retórica mais dura.
Durante a fala, Biden afirmou que se o presidente russo, Vladimir Putin, invadisse o país vizinho seria um “desastre” para seu Estado e que o líder do Kremlin poderia fazer “pequenas incursões” em áreas já de conflito, como o Donbass. Além disso, informou que enviou milhares de armamentos e equipamentos de inteligência para a Ucrânia.
Fontes ouvidas pela CNN disseram que o governo de Kiev ficou “chocado” com o tom do discurso e entenderam que Biden deu um “sinal verde” para Putin invadir a nação. Rapidamente, a Casa Branca teria entrado em contato para garantir que a declaração foi para dizer que “se houver” uma invasão, será “dada uma resposta dura e unida dos EUA e dos aliados”.
Biden também se manifestou nesta quinta-feira (20) sobre o tema e disse que considera “uma invasão” qualquer “pequena incursão” na Ucrânia.
Já o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou em sua coletiva diária que as falas de Biden “podem facilitar a desestabilização de toda a situação”.
“Todas essas declarações poderiam infundir esperanças completamente erradas nas cabeças quentes de alguns representantes da Ucrânia, da liderança da Ucrânia que, na surdina, poderia decidir dar início a uma nova guerra civil no próprio país e buscar resolver com a força a questão do sudeste [Donbass]”, pontuou ainda.
Peskov ainda ressaltou que não está descartada uma nova reunião entre Putin e Biden, mas “que isso não vai acontecer amanhã”, quando o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e o secretário norte-americano de Estado, Antony Blinken, vão se reunir em Genebra.
Novas armas
Nesta quinta, os EUA aprovaram o pedido dos países bálticos de enviar armas produzidas pelos norte-americanos para a Ucrânia para se “defender” de uma ofensiva russa, informam fontes de Washington.
A nova medida fez com que a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Moscou, Maria Zakharova, alertasse o “ocidente” a parar de “apoiar a militarização da Ucrânia e querer jogá-la na Otan”.
Para os ocidentais, Moscou está enviado tropas para as áreas de fronteiras para atacar a Ucrânia caso o país decida se aliar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Já Putin afirma que só está fazendo ações para defender seu território e garantir a segurança.
Lavrov-Blinken
Também nesta quinta, representantes das Relações Exteriores das duas nações voltaram a se manifestar sobre o encontro entre Blinken e Lavrov nesta sexta-feira (21).
Para Zakharova, Moscou não espera uma solução imediata para a crise ucraniana e que o encontro de amanhã servirá para “dar novos passos” em direção a um acordo sobre o tema.
“As partes devem examinar os resultados das reuniões da última semana […] e decidirem possíveis passos futuros, incluindo a rápida resposta escrita dos EUA”, acrescentou.
Quem também se manifestou foi o enviado russo à União Europeia, Vladimir Chizhov, que disse à ANSA que “espera que Antony Blinken não chegue ao encontro de Genebra com as mãos vazias”.
“Os políticos ocidentais repetem um mantra de Kiev: nenhuma discussão sobre a Ucrânia sem a Ucrânia. Ok. Então nós podemos dizer que nenhuma discussão sobre a Rússia sem a Rússia também. Mas, espero que prevaleça o bom senso”, pontuou.
Por sua vez, Blinken ressaltou que os EUA “sempre representaram de maneira muito clara que uma nova agressão contra a Ucrânia teria consequências claras por nossa parte” e que “a ideia de colocar à disposição de Kiev equipamentos militares de defesa – sejam norte-americanos, europeus ou da Otan – não é uma provocação ou uma razão para a atividade russa inverter a situação”.
Reações internacionais
Após se reunir com Blinken nesta quinta, a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, afirmou que “estamos de acordo sobre o fato de que a única via é a política e esse caminho é o diálogo”.
“Infelizmente, a Rússia fala uma outra língua e as atividades militares aumentam. Sobre a segurança da Ucrânia, nós temos uma análise comum e com uma aceleração [do conflito] nós avaliaremos as sanções mais eficazes, de modo que devem causar um impacto”, acrescentou Baerbock.
Já o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, repetiu a fala de Biden e disse que uma invasão militar russa seria um “desastre”.
“Se a Rússia fizer uma incursão na Ucrânia, de qualquer tamanho, eu acredito que seria um desastre, e não apenas para os russos. Seria um desastre para o mundo. O Reino Unido está fortemente apoiando a soberania e integridade territorial”, destacou.
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