O que a história de um menino que não sabia ler, a música e um circo têm em comum? Um musical repleto de incentivo e amor pela educação. Idealizado pelo compositor e professor de História Gerson Guimarães, 56, o espetáculo Circo do Só Ler narra uma situação bastante conhecida pela população brasileira, o aprendizado tardio da leitura. Ao menos na peça, o final desta história é feliz.
No musical, uma criança que não sabia ler vê tudo mudar com a chegada de um circo bem diferente à sua cidade, que a convida para uma viagem no mundo mágico da literatura infantil. No espetáculo, o menino é desafiado a aprender a ler, para assim entender como a letra forma uma palavra e como as palavras contam histórias.
“Por não saber ler, o menino vê o ingresso do circo todo em branco e chega a reclamar com o palhaço que o bilhete não estava preenchido. Ao perceber que o ingresso estava correto e que, na verdade, o menino não conseguia entender a mensagem, a trupe do circo o leva para uma viagem no mundo mágico da literatura que desperta seu interesse não só pelas palavras, mas por conhecimento”, detalha o educador.
Ao longo do espetáculo, o personagem se familiariza com o universo das letras e é incentivado a abrir um livro que o “levaria” até a Roma, na Itália. Porém, ao folhear as páginas, o menino só consegue identificar a palavra amor. E é nessa hora que a magia acontece. “Roma é amor ao contrário. Então, ele aprende não só a ler, mas a amar e brincar com as palavras. E isso é o que torna a experiência do musical ainda mais marcante”, explica.
Gerson teve a ideia de montar o espetáculo através de um convite para ser mestre de cerimônia da formatura do filho que estava concluindo o Ensino Fundamental. Acostumado a lidar com adolescentes, o professor precisou recorrer ao lúdico para entreter o público que participava do evento. Um show de mágica, uma apresentação no power point e uma canção foram a solução. “A melodia emocionou a todos que estavam presentes e, quando terminou o evento, eu vi que aquela música não era apenas uma simples canção. Ela poderia se tornar uma peça”, relembra o idealizador do Circo do Só Ler.
Além da montagem que ganhou o Prêmio Braskem de Teatro na categoria Melhor Espetáculo Infantojuvenil em 2014, Gerson é responsável pelo musical História Cantada. O projeto aborda a evolução histórica do ocidente, desde o Império Romano até a Guerra Fria. Já a peça Banda da Limpeza fala sobre um grupo de axé que toca canções sobre o meio ambiente e sua preservação. “A música é invisível, porém muito poderosa. É um grande instrumento de educação e transformação. Independentemente de ser professor ou não, qualquer pessoa pode levar ensinamentos através de canções para as salas de aula e para a vida”, conclui com a experiência de quem há 25 anos une a música à educação.
A música como norteador de destino
Há quem diga que a música é terapêutica. Outros vão além e garantem que ela salva vidas. Para o designer e cantor Igor Lisboa, o contato com a música foi um divisor de águas e mudou seu destino. “A música me ajudou a ser disciplinado. Tive um momento muito complicado na minha vida, quando eu passei no vestibular, mas reprovei no Ensino Médio. A sensação era que eu tinha queimado uma etapa. Então, foi um momento muito ruim e, de alguma forma, tocar instrumentos me ajudou a ter disciplina de novo para concluir o Ensino Médio”, lembra Lisboa que, aos 16 anos, aprendeu os primeiros acordes.
Começou com a guitarra. Logo despertou interesse pelo violão, teclado, baixo e só parou quando se percebeu multi-instrumentista. O amor pela arte se expressava também através de desenhos. Igor sempre gostou de desenhar, pintar e lidar com artes visuais. Daí a formação em Design. Mas sua verdadeira paixão, se tornou também o seu instrumento de trabalho. “Encontrei na música algo que faz eu me sentir muito bem. Diferente de outras experiências artísticas que eu tive até então, a música tem um papel de destaque na minha vida”, conta.
Autor de 19 singles e com 2 EPs lançados, Igor Lisboa já participou de algumas bandas de rock em Salvador mas, há quatros anos, prefere trilhar a carreira solo. Em seu mais novo álbum, intitulado Desgaste Completo, as canções são como pílulas de conforto para mentes e corpos cansados, uma resposta a várias situações desafiadoras que o artista e o mundo tem vivenciado. Dentre elas, a pandemia. “A arte é uma forma de compartilhar com outras pessoas que estão lidando com os mesmos sentimentos e questões que provocam angústia”.
A temática ambiental é outra fonte de inspiração para as composições autorias. Na pauta musical e ecológica, destacam-se canções como Aquecimento Global, cuja letra não esconde indignação. “Não tenho palavras para isso. A questão não é mais: como evitar o aquecimento global. A questão é pensar em meios de sobrevivência para a raça humana”. A atmosfera do disco é de enfrentamento de problemas, sejam individuais ou coletivos. As letras são um convite à reflexão. “As canções são poderosas. Podem e devem ser usadas como veículo para transmitir mensagens”, conclui.
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