(ANSA) – A Fundação Scholas Occurrentes, programa educativo com escolas no mundo todo impulsionado pelo papa Francisco, rejeitou uma doação de mais de US$ 1 milhão do presidente da Argentina, Mauricio Macri, sob recomendação do próprio líder da Igreja Católica.
O gesto da entidade gerou um grave incidente político de repercussão internacional e tem feito os argentinos questionarem a verdadeira relação de Jorge Mario Bergoglio com o novo mandatário do país. “Quando a esmola é grande, até o Papa desconfia”, escreveu o jornal argentino “Pagina 12” ao narrar o episódio. Macri tinha destinado 16,666 milhões de pesos argentinos para a sede da Scholas Occurrentes em seu país através de um decreto publicado no dia 30 de maio.
De acordo com a Casa Rosada, o dinheiro deveria “suprir gastos com pessoal, equipamento e infraestrutura da sede central”. Trechos da carta com a resposta da Scholas Occurrentes para o governo argentino foram publicada na semana passada pelo blog “Vatican Insider”.
“Para o Papa, foi uma surpresa, e não foi positiva”, comentou o site, explicando que Francisco considerou o valor da doação exagerado, já que a Argentina tenta sair de uma crise econômica. Além disso, os 666 mil pesos, que correspondem ao chamado “número da besta”, pareceu uma piada de mal gosto para a Santa Sé.
O incidente político fez a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Susana Malcorra, se reunir ontem (13) com o Papa, na residência de Santa Marta, no Vaticano, para garantir que “não há nenhuma inimizade com o presidente”. O encontro durou uma hora. “Falamos do país de maneira construtiva e positiva, e também discutimos temas mundiais”, disse a chanceler. “Na Argentina, existe uma tendência a definir tudo como uma oposição de amigo-inimigo”, alfinetou Malcorra.
De acordo com fontes do Vaticano, além do mal-estar com o governo argentino, a recusa de Francisco causou até polêmica dentro da cúria. Mas seus colaboradores mais próximos sabem que o Papa tem muito cuidado para sua imagem não ser usada politicamente. Como cidadão argentino, Jorge Mario Bergoglio, que até ser eleito líder da Igreja Católica, em março de 2013, era arcebispo de Buenos Aires, demonstra preocupação com medidas econômicas tomadas por Macri que afetam as camadas mais populares da sociedade e com o clima político acirrado entre os apoiadores do governo atual e os eleitores da ex-presidente Cristina Kirchner.
Logo após tomar posse como presidente, Macri viajou ao Vaticano para uma audiência com Francisco, na tentativa de criar uma imagem de proximidade com o líder católico, cuja popularidade mundial é recorde. Mas a relação do Papa com a antecessora de Macri também não era das melhores. O conflito entre o governo e o setor agrícola em 2008, a aprovação do casamento gay, em 2010, e outras medidas de Cristina deterioraram seu diálogo com Bergoglio.
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