PSDB força arranjo para não se vincular à relatoria da denúncia contra Temer
outubro 6, 2017Numa manobra confusa e sem efeito prático algum, o PSDB decidiu destituir o deputado mineiro Bonifácio de Andrada da suplência do partido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Bonifácio é relator da segunda denúncia de corrupção do Ministério Público contra o presidente Michel Temer. O mineiro se mantém na função, agora pela vaga do PSC na comissão.
Na base do governo com quatro ministérios, essa foi a solução que os tucanos encontraram para não deixarem a digital numa possível decisão de salvar a cabeça de Temer. Bonifácio votou pelo encerramento da primeira denúncia e acredita-se que manterá seu apoio ao presidente.
Aos 89 anos, sendo 39 só de Câmara, ele acumula em sua vida política 10 mandatos de deputado federal, 4 de estadual e 1 de vereador. Sua escolha como relator foi jogada na conta da sua experiência parlamentar pelo presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco, do PMDB de Minas.
A indicação, na semana passada, criou um desconforto imediato na cúpula do PSDB. Rachado quanto o apoio ao governo, o partido teme sentir nas eleições de 2018 o reflexo da impopularidade do Planalto. E embora não se desvincule dele e dos cargos que oferece, tenta manter um certo descolamento quando se trata de manifestações públicas de apoio.

Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados
Bonifácio não gostou nada da decisão do partido. Disse que foi tratado com elegância pelos líderes tucanos, mas que isso pouco adiantou, já que o tiraram da vaga na comissão. Ao lado do líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli, de São Paulo, e do presidente nacional do partido, senador Tasso Jereissati, do Ceará, sorriam e se tratavam com polidez. Mas Bonifácio bradou independência.
“Eu não estou aqui, no caso, e eles sabem bem disso, me submetendo à direção do partido, não. Eles sabem muito bem, eu viu me submeter ao presidente da Comissão de Constituição e Justiça.”
O senador Tasso Jereissati, que minutos antes destacou o decanato de Bonifácio na Câmara e a honra de tê-lo no partido, fez questão de interrompê-lo.
“Ele tem essa ligação, mas ele tem obrigações com o partido também, ele sabe disso. Sem dúvida nenhuma. Tanto é que, lógico, se o presidente tiver que me afastar, que me afaste”
Vice-líder do governo na Câmara e defensor do presidente Michel Temer, o deputado Carlos Marum, do PMDB do Mato Grosso do Sul, lamentou a decisão do PSDB e a resumiu como inconsequente e sem efeito algum. “O meu entendimento é que não muda nada. Por isso eu penso que, se não muda nada e nós temos tanta coisa importante pra fazer, talvez isso não precisasse ter acontecido.”
Fora da vaga do PSDB na Comissão de Constituição e Justiça, Bonifácio de Andrada, ligado ao senador afastado Aécio Neves, assume a vaga na suplência do PSC que vinha sendo ocupada pelo Pastor Marco Feliciano, de São Paulo.