Um mês após a morte do ex-pugilista Maguila, vítima da Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), doença degenerativa causada por impactos repetidos na cabeça, a discussão sobre a prevenção de concussões no esporte ganha força. Diversas modalidades e federações esportivas têm implementado protocolos para minimizar os riscos e aprimorar o atendimento a atletas que sofrem traumas cranianos.
“Hoje em dia, em escolinhas de futebol dos Estados Unidos, as crianças não treinam cabeceio até uma certa idade”, relatou à Agência Brasil Maria Elisabeth Ferraz, coordenadora do Departamento Científico de Traumatismo Cranioencefálico da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). A médica defende a prevenção, questionando a necessidade de cabeceios e golpes na cabeça em treinamentos, especialmente em crianças. “Para que ficar submetendo a criança ao cabeceio desde pequena?”, indaga. Ferraz recomenda ainda que informações sobre os riscos de traumatismos recorrentes na cabeça sejam disseminadas, permitindo que atletas tomem decisões conscientes.
O Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) adotam a Ferramenta de Avaliação de Concussão Esportiva (SCAT), padrão também no Comitê Olímpico Internacional (COI) e na Federação Internacional de Futebol (Fifa). O protocolo inclui avaliações basais de coordenação motora, reflexos e memória, além de exercícios de prevenção para a musculatura cervical, revisados anualmente. No CPB, a aplicação do SCAT enfrenta desafios específicos, especialmente em esportes para cegos, como o futebol. O médico-chefe Hesojy Gley destaca a importância da equipe multidisciplinar conhecer a dinâmica motora de cada atleta para um diagnóstico preciso de concussão.
No futebol de cegos, uma substituição específica por concussão foi introduzida nos Jogos de Tóquio (2021). O atleta diagnosticado com concussão pelo médico é obrigado a ficar três minutos fora de campo. Caso retorne, a substituição não é contabilizada dentro do limite de seis trocas permitidas por tempo de jogo.
O rugby, esporte com alto risco de impacto craniano, trabalha em conjunto com a NFL para aprimorar os estudos sobre concussão. Lúcia Deibler, diretora médica do Programa de Bem-Estar do Jogador na Confederação Brasileira de Rugby (CBRu), explica que o jogador que sofre o tackle tem menos risco de concussão do que quem o aplica. A CBRu busca, com novas regras, reduzir o nível do tackle. Em casos de suspeita de concussão, o atleta é removido e segue um protocolo de retorno de 21 dias, que inclui avaliações em diferentes estágios.
No futebol, a International Football Association Board (IFAB) aprovou um novo protocolo que permite uma substituição extra para casos de concussão, já adotado nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro masculino. Um cartão vermelho é apresentado ao quarto árbitro, e o time adversário também ganha uma substituição extra. A CBF recomenda que, em caso de choque entre atletas da mesma equipe com sintomas de concussão, apenas um utilize a substituição extra, enquanto o outro seja substituído dentro do limite regular de cinco trocas. Ferraz, da ABN, observa que os protocolos estão evoluindo e se aproximando dos modelos mais rigorosos aplicados nos EUA, onde atletas são afastados e submetidos a avaliações detalhadas até a completa recuperação.
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