A escassez de água em um sítio de Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro, em 2020, serviu como um alerta para a importância do reflorestamento. A propriedade, anteriormente usada para cultivo de mandioca e inhame e posteriormente transformada em pasto para criação de gado, sofria com a degradação da Mata Atlântica original. A seca da fonte de água motivou Mário Honório Teixeira Filho a ceder ao apelo do filho, Mário Bruno Teixeira, para iniciar o processo de recuperação da vegetação.
Em menos de um ano, com o reflorestamento de 1 hectare (equivalente a um campo de futebol), a água voltou. “A gente não está plantando árvore. A gente está plantando água, na verdade. É disso que a gente precisa”, afirma Leonardo de Mattos, morador do sítio e sócio de Bruno na produção da Pi Kombucha Tropical, bebida comercializada no Rio de Janeiro e São Paulo. A recuperação da área também trouxe de volta a vida selvagem: “Esses dias avistamos um tamanduá. Nunca imaginamos que fossemos ver um animal desses por aqui”, completa Leonardo.
Após a morte do pai, Bruno assumiu a administração do sítio e ampliou o projeto de reflorestamento para mais 3,8 hectares. Os resultados positivos são notórios: “O ar está mais puro, os animais estão voltando, a gente está vendo muito pássaro voltando, o que a gente não tinha dez anos atrás. É uma alegria muito grande”, relata Leonardo, destacando a melhoria na qualidade de vida e no ambiente.
Este reflorestamento faz parte do Projeto Guapiaçu, uma iniciativa da Ação Socioambiental (ASA) em parceria com a Petrobras. O projeto foca no reflorestamento de propriedades privadas, demonstrando os benefícios para a produção e a qualidade de vida. A Mata Atlântica, bioma presente em 17 estados brasileiros, abriga o maior número de espécies de plantas e animais ameaçadas de extinção no país, sendo que cerca de 70% da população brasileira vive em suas áreas, mesmo com 71,6% do bioma já desmatado, segundo o INPE. Quase 80% das áreas remanescentes estão em propriedades privadas, conforme a Fundação SOS Mata Atlântica.
Gabriela Viana, presidente da ASA e coordenadora executiva do Projeto Guapiaçu, explica a estratégia: “O nosso trabalho de mobilização de áreas é feito com os proprietários da região. Nós visitamos, insistimos, conversamos. Temos muito tempo de cadeira, tomando cafezinho com os proprietários”. Ela destaca os múltiplos benefícios do reflorestamento: “A gente tá aqui, na sombra, ali do lado tem sol, ninguém quer ficar no sol. A gente está usufruindo dessa sombra porque é um serviço do ecossistema. É o primeiro que a gente sente. Quando a gente entra na floresta, fora a quantidade e a qualidade da água e a biodiversidade. É um valor que nem todo mundo percebe ou consegue tangibilizar o que a gente tem de biodiversidade principalmente na Mata Atlântica”.
Em seis anos, o projeto visitou mais de 1.000 propriedades em Cachoeiras de Macacu, obtendo parcerias com 16 delas, resultando no plantio de mais de 500.000 mudas em 300 hectares. O Projeto Guapiaçu assume os custos (entre R$ 60.000 e R$ 90.000 por hectare), o plantio de espécies nativas (considerando preferências dos proprietários, se compatíveis com a flora local) e a manutenção por três anos, tempo suficiente para o estabelecimento da floresta. A floresta se auto-sustenta após 20 anos, com a fauna e flora recompostas.
A localização de Cachoeiras de Macacu, próxima ao Parque Estadual dos Três Picos, é estratégica. O reflorestamento de propriedades vizinhas ao parque cria corredores de floresta, conectando áreas preservadas e aumentando a área total de floresta, facilitando a movimentação de animais e o fluxo genético. “Quando você faz justamente essas conexões entre os fragmentos [de floresta] você permite que esses animais circulem, permite o fluxo gênico, permite que a genética ali aconteça em uma variabilidade maior. Você tem um maior número de animais que estão se reproduzindo entre si, não são ilhas isoladas, né? Por isso que ter diversas propriedades que façam essa adequação ambiental é muito interessante, porque ganha todo mundo”, explica Tatiana Horta, coordenadora operacional do Projeto Guapiaçu.
Mesmo pequenas áreas de reflorestamento podem causar um impacto significativo. Em Cachoeiras de Macacu, 99% das propriedades são pequenas, e o projeto acompanha o reflorestamento por três anos. “Eu acho que plantar uma árvore é um ato muito generoso”, diz Viana. “Eu plantei um jequitibá com as cinzas do meu avô e eu, muito provavelmente, não vou sentar embaixo desse jequitibá para usufruir da sombra, mas eu vou deixar o jequitibá para os meus filhos e meus netos”. Questionada sobre a possibilidade de salvar a humanidade e as florestas diante da crise climática, Viana afirma: “Eu acredito que dá tempo”.
A equipe da Agência Brasil viajou a convite da Petrobras.
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