Dormir está longe de ser perda de tempo. Muito pelo contrário, quem dorme pouco pode estar negligenciando tempo de vida. No Dia Mundial do Sono (comemorado em 19 de março), a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Associação Brasileira do Sono (ABS) alertaram para a estreita relação entre uma rotina de sono de qualidade e a incidência de doenças cardiovasculares.
A presença de distúrbios de sono é frequentemente observada na população mundial. No Brasil, a qualidade de sono ruim é uma realidade para muitos. Dados extraídos recentemente de base populacional mostram que cerca de dois terços dos brasileiros apresentam uma qualidade do sono prejudicada. Em um estudo recente, foi identificada uma maior prevalência de má qualidade do sono entre a população mais jovem, o que não era notado em estudos anteriores. Além disso, a pandemia e situações como a guerra podem prejudicar ainda mais o sono. É o que explica Luciano Drager, professor associado do Departamento de Clínica Médica da FMUSP, especialista da SBC, presidente da Associação Brasileira do Sono (Biênio 2022-2023) e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.
Múltiplos fatores contribuem para este cenário, incluindo os maus hábitos de sono, o excesso de exposição à luz e interação com a Internet, além de problemas pessoais, familiares e financeiros. De acordo com especialistas, a qualidade do sono pode ser comprometida por uma série de distúrbios. A privação dele, insônia e distúrbios respiratórios, como a chamada apneia do sono, são alguns deles.
As consequências vão além do desconforto de não ter um sono restaurador e estão relacionados a problemas cardiovasculares. Evidências científicas apontam que estes distúrbios podem induzir arritmias, contribuir para aumentar a pressão arterial, envelhecimento dos vasos e o risco para a ocorrência do infarto e do derrame. Além disso, os problemas com o sono podem contribuir para o surgimento do diabetes, de alterações no colesterol e promover comprometimento na memória e no humor.
“Dormir mal acaba ocasionando múltiplas consequências, principalmente a longo prazo”, enfatiza Drager.
Entre os motivos pelos quais isto pode ocorrer estão o aumento da produção de hormônios de alerta e estresse, como a adrenalina e cortisol, e a alteração dos hormônios que controlam a fome e saciedade, contribuindo para o ganho de peso e alterações no açúcar. Outro agravante é o comprometimento dos vasos sanguíneos.
Em relação ao que pode ser considerado hoje “saudável” do ponto de vista de sono não só olhando para o coração, mas de uma maneira geral, não existe uma regra geral e sim de indivíduo para indivíduo.
É preciso entender as necessidades pessoais com relação à quantidade de horas diárias de repouso para de fato sentir-se descansado. Adotar uma rotina de regularidade, estabelecendo horários para dormir sempre no mesmo horário, além de outras medidas, como a prática regular de atividade física, evitar o uso exagerado de substâncias estimulantes a exemplo da cafeína, refeições mais leves antes de dormir, também fazem parte das recomendações. Estar atento à incidência de roncos, por exemplo, que podem indicar apneia do sono, e reduzir a exposição ao excesso de luz, incluindo a proveniente das telas dos celulares, em especial pelo uso de internet e interações com as redes sociais, são também pontos de atenção.
“Temos que fazer o máximo possível para respeitar o número de horas do sono a manter esta regularidade. E, os pacientes que vivenciam uma qualidade de sono ruim podem começar a apresentar batedeiras no coração e aumentos da pressão arterial. Esses sinais vitais também precisam ser acompanhados. Valorizar estes quadros e procurar ajuda médica podem ser um ótimo início para a tentativa de recuperar este sono de má qualidade“, finaliza Drager.
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