O tenente-coronel Rodrigo Bezerra Azevedo, integrante do grupo de forças especiais conhecido como kids pretos, preso no Rio de Janeiro em 19 de novembro, é alvo de uma investigação da Polícia Federal (PF) sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado e plano de assassinato de autoridades. Sua defesa, representada pelo advogado Jeffrey Chiquini, afirma categoricamente que o militar é vítima de uma “armação”.
Segundo Chiquini, em entrevista coletiva após o depoimento de Azevedo à PF, realizado por videoconferência, “plantaram provas a alvos específicos para essa imputação a pessoas específicas”. O advogado argumenta que o tenente-coronel não tinha conhecimento de qualquer plano golpista e que recebeu um celular como “cavalo de Troia”. Ele alega que Azevedo foi “pinçado a dedo para que a ele seja imputada uma participação inexistente das forças especiais”, caracterizando, segundo a defesa, uma “sabotagem das Forças Armadas”.
A PF, no entanto, aponta em seu relatório que Azevedo, identificado pelo codinome “Brasil” em mensagens interceptadas, utilizou um celular em Brasília no dia 15 de dezembro de 2022, para comunicação relacionada ao plano de atentar contra a vida do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF). O mesmo aparelho foi habilitado com outro número em nome de Azevedo em 29 de dezembro. O relatório completo da PF, com 884 páginas, está disponível aqui.
A defesa rebate essas alegações. Chiquini afirma que Azevedo estava em Goiânia com sua família no dia 15 de dezembro, aniversário do militar, e que o celular só chegou às suas mãos em 24 de dezembro, quando assumiu um cargo no Centro de Coordenação de Operações Especiais do Exército. O advogado sugere que o aparelho foi “plantado” por um militar ou funcionário terceirizado corrompido. Ele descreve a escolha do aparelho por Azevedo como algo óbvio: “Óbvio que ele escolheu o mais novo. Óbvio que escolheu o melhor celular.”
A defesa acredita que a imputação de culpa ao tenente-coronel visa atingir o Exército, especificamente suas forças especiais, ou obstruir as investigações sobre a tentativa de golpe. Chiquini enfatiza: “Se houve plano, tem que ser apurado”.
Outro Militar envolvido: O relatório da PF menciona o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, também kid preto, que em mensagens demonstrava confiança em Azevedo, referindo-se a ele como “O Zeza. O único que eu confio”. Oliveira, um dos 37 indiciados pela PF, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, está supostamente ligado a orientações para a execução do crime. Azevedo, apesar da prisão pela Operação Contragolpe, não consta na lista dos 37 indiciados. A lista completa dos indiciados pode ser consultada aqui.
Em 30 de dezembro, após a saída de Bolsonaro do país, Azevedo publicou em um grupo de WhatsApp: “Rapaziada esse grupo aqui pra mim perdeu a finalidade… deixo aqui um abraço pra FE de verdade que fizeram o que podiam pra honrar o próprio nome e as Forças Especiais…qq coisa estou no privado!!Força!!”. A PF interpreta essa mensagem como prova da participação de Azevedo na ação clandestina de 15 de dezembro, enquanto a defesa argumenta que se refere a transferências internas no Exército.
Chiquini questiona a falta de análise do histórico completo de mensagens: “Cadê o histórico de mensagens a conseguirmos analisar esse contexto?” A defesa considera o suposto plano golpista “amadorístico”, incompatível com as capacidades de forças especiais, e afirma que provas da inocência de Azevedo estão em seu celular apreendido. A defesa solicitará acesso ao aparelho para pedir a soltura do militar, que, segundo Chiquini, “vai colaborar com as investigações. E não delatar, porque inocente não delata.”
O relatório da PF foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá sobre a denúncia, o arquivamento do inquérito ou a necessidade de investigações adicionais. O documento afirma que as ações visavam “viabilizar o golpe de Estado, na tentativa de impedir a posse do governo legitimamente eleito e restringir o livre exercício do Poder Judiciário brasileiro”.
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