Mercado espera decisão do Copom com expectativa de alta na Selic
O mercado financeiro aguarda com grande expectativa a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para os dias 17 e 18 de setembro. A principal dúvida entre analistas e investidores é se a Taxa Selic será mantida em seu nível atual ou se haverá uma elevação, possivelmente de 0,25 ou até 0,50 ponto percentual.
Nas últimas semanas, a comunicação dos membros do Banco Central tem sido intensa, gerando diferentes interpretações no mercado. Durante o evento Expert XP, realizado em São Paulo, três importantes gestores de fundos – Felipe Guerra (Legacy Capital), James Oliveira (Vinland Capital) e André Raduan (Genoa Capital) – compartilharam suas perspectivas sobre a decisão que está por vir.
André Raduan, da Genoa Capital, foi enfático ao criticar a constante comunicação dos dirigentes do BC. “Tem tido muito ruído e muita comunicação [dos dirigentes do BC], em um período em que supostamente não era para ter guidance”, disse Raduan durante sua participação. Ele explicou que essa situação é fruto de um cenário mais volátil, exacerbado pela existência de “dois presidentes” no Banco Central: Roberto Campos Neto, o presidente oficial, e Gabriel Galípolo, cotado como seu sucessor.
Para Raduan, a próxima decisão do Copom deve ser de elevação da Selic, justificando que, apesar dos juros em 14%, o Brasil ainda vive um período de forte crescimento econômico. “O Brasil passou por alguns anos de crescimento muito forte, mesmo com juros de 14%. Parte disso vem do fiscal, do aumento de gastos. Parte também vem do mercado de crédito – o mercado de crédito PJ tem crescido de 20% a 25% ano contra ano. Para mim é óbvio que [a Selic] não está restritiva”, afirmou o gestor.
No mesmo painel, James Oliveira, da Vinland Capital, concordou com a necessidade de um ajuste na Selic. Ele destacou que a comunicação excessiva e muitas vezes contraditória do BC cria confusão e instabilidade no mercado. “A comunicação tão frequente, muitas vezes com diretores sinalizando em direções opostas, atrapalha o mercado e gera volatilidade”, argumentou.
James também destacou o impacto dos gastos fiscais no crescimento econômico do Brasil, observando que a economia do país está superaquecida, com baixo desemprego e uma inflação que deve ultrapassar o teto da meta. “A economia está super aquecida e desemprego super baixo, a inflação corrente, a gente acha que vai vir acima do topo da meta. Não estamos restritivos. Para levar a inflação para meta, vamos ter que ter aumento [da Selic]”, explicou Oliveira. Ele ainda ponderou que o tamanho exato do aumento dependerá do comportamento da economia brasileira nos próximos meses.
Felipe Guerra, da Legacy Capital, adotou um tom ainda mais crítico. Ele afirmou que a atual taxa de juros no Brasil está “completamente errada, fora do lugar” e expressou preocupações de que a inflação ultrapasse 5% no próximo ano. Guerra também apontou que a economia brasileira está em aceleração, em contraste com o cenário internacional, e que o crédito no país continua a crescer, especialmente em linhas de crédito para pessoas físicas, como financiamento de automóveis e crédito pessoal, que, segundo ele, “não estão respondendo aos juros [no patamar atual]”. Guerra foi categórico ao afirmar que, caso o Copom opte por um aumento de apenas 0,25 ponto percentual, isso seria “um erro completo”. “Se for aumento gradual, inflação vai gradualmente explodir”, alertou o gestor.
Questões fiscais
A política fiscal também foi tema de análise pelos gestores, com James Oliveira expressando preocupações. Ele destacou que os gastos públicos continuam a impulsionar a economia e a inflação, mesmo com os esforços do governo para ajustar as contas. “Com esses gastos todos, mesmo se aumentasse arrecadação, se conseguisse zerar o déficit, o gasto é o que vale para inflação, para economia”, afirmou.
James também comparou a situação fiscal do Brasil com a dos Estados Unidos, ressaltando que, enquanto a dívida americana está em níveis elevados, similares aos da Primeira Guerra Mundial, a credibilidade do país permanece intacta, permitindo ajustes sem grandes consequências. “A dívida americana está em níveis altíssimos, como na 1ª Guerra. Mas o spread de crédito não mudou muito. Nunca houve default e várias vezes os EUA tiveram esse problema e conseguiu fazer o ajuste. Não tem problema quanto à credibilidade da dívida”, disse.
Contudo, ele advertiu que a realidade é diferente para países em desenvolvimento como o Brasil, onde a fragilidade fiscal é mais pronunciada. “Para os países desenvolvidos, isso não é problema. Para outros, é mais crítico. A gente tá vendo que não é fácil fazer ajuste fiscal”.
Felipe Guerra complementou a análise, afirmando que o mercado global já está acostumado com o tamanho da dívida dos Estados Unidos, e que, se houver necessidade de aumentá-la um pouco mais por boas razões, os mercados continuarão funcionando normalmente. “No final, o mundo está acostumado com esse tamanho de dívida [dos EUA], e se tiver que aumentar um pouco mais por boa razão, mercados vão continuar funcionando”, disse Guerra.
Em contraste, ele alertou que, em países em desenvolvimento como o Brasil, onde a estabilidade da dívida é mais precária, uma queda nos preços das commodities pode desencadear uma crise. “Em outros países que têm fragilidade do ponto de estabilizar a dívida, como o Brasil, se o preço de commodities despencar, o risco explode”, concluiu.