A trilogia O Senhor dos Anéis consagrou J.R.R.Tolkien para o mundo e deu a milhares de jovens leitores um universo para conhecer. Seu nome: A Terra Média. A adaptação cinematográfica da obra, nos anos 2000, foi um sucesso. Quem ainda não conhecia Frodo Bolseiro e companhia, acompanhou a trilogia nas telonas. E assim, muitos de nós adentramos nesse universo cheio de orcs, magos e hobbits.
E no Ipkissia Máskarose dessa semana falaremos de um dos personagens que, à primeira vista, não parece significar muita coisa, mas que como Gandalf proferiu: “Meu coração me diz que Gollum (Sméagol) tem uma parte para desempenhar nessa história, para o bem ou para o mal, antes que ela termine.”
A obra de Tolkien é um labirinto. O primeiro ponto a ser abordado é que Sméagol, antes de tudo, era um Hobbit. Contextualizando, sua aparição na obra se dá na reaparição do Um Anel que após a morte de Isildur, 2.500 anos antes, o Um Anel fora perdido nos Campos de Lis.
Sméagol estava pescando com seu primo Déagol no dia de seu aniversário, quando Déagol é arrastado para o fundo do rio por um peixe. Lá, ele reencontra um anel mágico: o Um Anel. A cobiça que o Um Anel exerce em qualquer ser vivo é incontrolável. Sméagol pede ao seu primo que dê o anel para ele. Seu primo, também já enfeitiçado, recusa. Os dois lutam e Sméagol mata Déagol.
A partir daí ele sela a sua vida em torno do artefato, ou como Sméagol diria “meu precioso“. Descobrindo seus poderes, ele o utiliza para fazer todo tipo de travessura. Com a utilização frequente do anel, Sméagol começa um processo de mudança corporal. O pigarro na garganta lhe rende seu apelido (e, talvez, o nome de seu alter ego) de Gollum. Após muitas traquinagens seus familiares decidem expulsá-lo do vilarejo.
Por mais 500 anos, Gollum viveu nas Montanhas Sombrias. E lá, O Um Anel o consumiu. No processo, Gollum perde quase todas as suas características de hobbit. Embora, o anel não contasse com isso, Gollum resiste e fica com ele. Com isso, a joia aguarda até a sua próxima chance de se livrar de seu então portador. E foi nas mãos de outro Hobbit (Bilbo Bolseiro) que ele teria essa oportunidade. Vale salientar que essa parte da história não acontece em O Senhor dos Anéis, mas sim no livro que precede a trama: O Hobbit.
Nesse momento, precisamos pontuar que o Um Anel tem como único objetivo retornar para as mãos de seu único e verdadeiro mestre: Sauron. Ficar sendo adorado por uma criatura como Gollum, era inaceitável.
A trama segue até o início de O Senhor dos Anéis onde vemos Gollum perseguindo seu precioso. Agora, ele se encontra com Frodo Bolseiro, sobrinho de Bilbo. A partir disso a troca de sentimentos entre Frodo e Sméagol começa. Pois, assim como Sméagol, Frodo agora carrega o fardo de ser o portador do Um Anel.
Frisamos que essa troca é mútua, pois após Déagol, Smeagol não teria criado mais nenhum vínculo fraterno. Com o surgimento desse vínculo o alter ego de Sméagol, Gollum, começa o seu trabalho de persuadir Sméagol a matar Frodo e retomar o anel para si.
A corrupção na mente de Sméagol é um golpe sem volta. Na continuidade da trilogia, vemos um ser solitário perdido em meio a uma cobiça que o consome. O alter ego que nos referimos aqui aparece como a versão de Sméagol que foi completamente persuadida pelo Um Anel. No caso do alter ego de Sméagol (sua versão perfeita) se caracteriza como a influência do poder de Sauron sob ele. Observamos toda a crueldade de Sauron que não poupou artifícios para que o Um Anel pudesse destruir qualquer ser vivo e retorna-lo ao seu mestre. Contra Sméagol, ele utiliza todos os malfeitos que ele cometeu no passado para atormentá-lo.
A “idiossincrasia” estabelecida entre o artefato mágico e seu portador, nesse caso Gollum, é a personificação da dualidade do indivíduo. A maneira com a qual Sméagol luta contra o instinto imposto de destruição de quem se oponha entre ele e o objeto adorado, bem como sua auto degradação, constrói a ideia do vício, da paixão nociva (em nada relacionada com um sentimento positivo), e determina que o adorador se põe num patamar de inferioridade ao objeto adorado.
A relação de interdependência criada destrói Gollum, de maneira que seu corpo e sua psique são afetados irreversivelmente com o avançar do tempo, lhe colocando em uma condição de sub existência e incapacidade de retomar o controle sobre suas vontades e sua própria vida, o levando a ruína.
Em resumo, ao se apegar, ao que era para Sméagol “precioso”, ele passa a supervalorizar o artefato em detrimento de si mesmo. Embora seja necessário reconhecer suas tentativas em se desvencilhar do objeto, é na sua relação de dependência do mesmo, que todo o mal feito a Terra Média, lhe condena ao diagnóstico lógico, do que pode ser um dos casos mais conflituosos, de Ipkissia Máskarose com o qual já lidamos.
Gostou do texto? “Ipkissia Máskarose”, estará de volta na próxima semana com um novo personagem. Você pode nos ajudar a escolher ele comentando abaixo o que achou e qual personagem quer ver na próxima matéria.
Por: Augusto “Clark” Miranda, Hiago Luis e Luiz Carlos “Capitão”