Que a cultura do “like” é totalmente nociva todos nós já sabemos. Mas alguns limites são transpostos, quando um símbolo de arte e cultura é banalizado e usado como mera embalagem de mediocridade. Ou você teria coragem de rasgar um Van Gogh ou Picasso para usar como invólucro de peixe em uma feira livre? P#$% da vida, digo… Em reação a isso, o Dinastia Literária dessa semana traz o clássico “1984” de George Orwell, em um análise completa sobre sua importância sociocultural. Portanto, cuidado com o que você diz e faz. O Grande Irmão está de olho!
O romance “1984” foi escrito no ano de 1948, e publicado no ano seguinte, fruto da mente criativa de George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair, Bengala, Índia), também autor do igualmente genial “A Revolução dos Bichos“. É preciso retomar o contexto do mundo à época; a humanidade acabava de passar por seu pior conflito bélico que ceifou milhões de vidas. O nazismo, fascismo, comunismo, e toda sorte de regimes totalitaristas assombravam o mundo com seu voraz desejo de dominação e controle da sociedade.
Nesse contexto, a distopia de Orwell apoia sua narrativa no totalitarismo e como a sociedade se torna refém de decisões unilaterais movidas por interesses escusos. As guerras e falácias propagadas por governos com o intuito de manipular as massas e subverter o pensamento crítico são mecanismos retratados e intensamente questionados dentro da história.
Em “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” o mundo passou por uma massiva guerra atômica, e agora o globo é dividido em três super estados: Lestásia, Eurásia e Oceania. A narrativa começa na Pista de Pouso Nº 1, uma província localizada no que antes era a Grã-Bretanha, agora parte do mega território denominado Oceania. Winston Smith, um sujeito comum de vida insípida, é empregado do Ministério da Verdade, órgão governamental responsável por alterar documentos e fatos históricos registrados afim de que toda e qualquer ação do governo seja tida como a mais pura verdade inquestionável, em favor do Ingsoc, acrônimo de Socialismo Inglês na novilíngua (linguagem inventada pelo governo).
Dentro do Ingsoc há o Partido Interno, composto pela elite dominante, que por sua vez é encabeçada pelo Grande Irmão! Figura de feição simpática que ostenta um bigode negro, de fato nunca foi visto pela imensa maioria da população, mas que exerce controle implacável sobre todos que vivem em seu regime, controlando todos os aspectos da vida em sociedade, coibindo o individualismo, e perseguindo e punindo àqueles que exercem o poder do pensamento crítico e se opõem ao status quo.
Contudo, Smith secretamente odeia seu trabalho, e tudo o que o partido e o totalitarismo representam. Constantemente tomado por ideias de revolução e oposição ao cenário atual, é por vezes dissuadido por O’Brien, membro do Partido Interno por quem Smith tem simpatia, a manter a fé no Grande Irmão e no que ele simboliza. Mas o repentino interesse de Winston em Julia, sua colega de trabalho que secretamente integra um grupo revolucionário, faz com que Winston se torne cada vez mais inclinado a aceitar que é preciso lutar contra o sistema.
A partir destes fatos, a narrativa se desenrola na luta dos protagonistas para fazer emergir uma revolução que corroa o sistema opressor vigente. A construção de “1984” é uma ode a luta pela liberdade e aversão ao pensamento condicionado por uma figura que busca o poder pelo poder, sem que haja qualquer vontade de preservar o bem-estar do individuo e da sociedade como um todo. A figura do Grande Irmão, como dito por Smith em uma passagem do livro, jamais foi vista ou sequer é lembrada como pessoa por alguém, o que nos faz crer que seja nada mais que uma alegoria para corroborar a autoridade do Estado, principalmente quando entona-se a frase “Big Brother is Watching You!” (O Grande Irmão está te vigiando).
É curioso pensar como Orwell “acertou” suas previsões tecnológicas em sua distopia, quando analisamos nosso poderio tecnológico atual. Teletelas, televisores presentes nas casas que, ao mesmo tempo em que transmitem imagens, vigiam aqueles que os assistem; drones que são usados com sistemas de circuito de vídeo em todos os lugares; microfones escondidos que captam qualquer conversa, por mais ordinária que seja. Sua ficção é dotada de uma alegoria ímpar, e por cada detalhe ricamente explorado se tornou uma obra base para os mais diferentes trabalhos posteriores.
Seu enorme sucesso foi confirmado ao ser traduzido para mais de 60 línguas, e suas influências se estendem pelo cinema, em produções como Jogos Vorazes, V de Vingança (também uma HQ), e várias outras produções que tomam sua premissa como “pano de fundo” em seus enredos, até jogos de vídeo game, música (David Bowie, no albúm Diamond Dogs), uma ópera, e até mesmo o mundialmente famoso reality show BIG BROTHER (sacou a referência?)!
“Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” continua mais atual do que nunca! O medo da perda da liberdade, a supressão das ideias e o receio do totalitarismo institucional são latentes, e a cada novo movimento opressor, o livro de George Orwell ressurge com sua sagaz narrativa de resistência. Mas e você? Já leu ou tem vontade de ler esse clássico da literatura moderna? Conta aí nos comentários. E para mais conteúdo sobre livros, séries, filmes e tudo que envolve o universo Nerd/Geek, acesse o Dinastia N também nas redes sociais.