Por volta de 3.500 a.C., os sumérios, na Antiga Mesopotâmia sintetizaram a escrita em símbolos cuneiformes. De lá para cá, a humanidade evoluiu de forma assombrosa em suas diversas maneiras de se comunicar, mas nenhuma delas superou a habilidade da escrita. Por milênios, ao mesmo tempo que foram moldados, os livros também moldaram a cultura ao seu redor. Justamente por isto o Dinastia Literária dessa semana traz uma seleção de grandes clássicos absolutos da literatura mundial, indispensáveis para os amantes da arte de arranjar palavras. Então, prepare um chá com biscoitos, mantenha um crucifixo por perto, e esteja atento às tempestades.
FRANKENSTEIN (MARY SHELLEY)
Mary foi uma abridora de caminhos para as mulheres na ficção e inspirou o mundo com seu romance gótico e científico que ia além de monstros sobrenaturais. Ela nos apresentou o homem como o verdadeiro monstro a ser temido e como muitas vezes o conhecimento pode ser uma benção ou maldição.
Esqueça o que viu sobre Frankenstein na maioria dos filmes e séries (talvez deva considerar Penny Dreadful), pois nada consegue se igualar com o poder da escrita original de Shelley ao nos apresentar o Prometeu Moderno. Na obra da escritora acompanhamos os resultados e consequências da curiosidade de uma mente brilhante que podem ir do aterrorizante ao poético em questão de segundos.
Bem desenvolvido e com uma narrativa cativante, é verdade que você precisa realmente querer mergulhar na história, afinal, é um livro antigo com uma linguagem diferente da atual. Entretanto, vale completamente o esforço para conhecer os detalhes de uma das melhores historias do gênero.
Fato interessante: apesar da imagem que temos do “monstro” ser chamada popularmente como Frankenstein, na verdade, não é o correto. Quem carrega esse nome é o cientista criador, e sua criação é chamada de Criatura.
DRÁCULA (BRAM STOKER)
Neste livro o horror clássico é reintroduzido na sociedade e podemos acompanhar a saga da união de um grupo humano contra o mal antigo que põe em risco todo o mundo conhecido.
Com uma destreza impressionante, detalhes precisos e rico no que se propõe, Stoker entrega uma obra magnifica completa para ninguém colocar defeitos e que precisa ser conhecida por qualquer um que queira mergulhar na literatura do gênero.
Drácula, na verdade, quebra a barreira de seu gênero se colocando além de um romance de horror feito para impactar o leitor e despertar seus medos. E isso foi o que mais me fez amar cada virada de página que dava enquanto lia. Isso unido ao fato de que foi o primeiro livro que li onde a história era contado em epístolas e diários.
Um marco na cultura pop em geral, Drácula até hoje marca presença no imaginário popular, tanto que não é quase impossível imaginar alguém hoje que tenha acesso a literatura, televisão e internet que não tenha ao menos ouvido falar do temido nome do conde maldito da Transilvânia.
A ODISSEIA (HOMERO)
É preciso deixar claro: A Odisseia não é uma leitura simplista e leve. É preciso paciência, persistência, e por último, mas não menos importante, um dicionário ao lado (se o leitor optar pela tradução mais fiel ao original, como feito por este que vos escreve).
Lançado no século VIII a.C., o poema épico é considerado a segunda obra da literatura ocidental – sendo a primeira a Ilíada. Atribuído a Homero, também autor de A Ilíada (há controvérsias sobre essas afirmações), o texto é um marco fundamental de tudo que conhecemos hoje, e não há como ser ignorado em qualquer lista que busque nortear sobre clássicos essenciais para um amante da leitura.
No poema, que sucede os fatos narrados sobre a Guerra de Troia apresentada no primeiro texto, acompanhamos a saga do herói Odisseu (ou Ulisses, como chamado na narrativa romana) em sua jornada épica de regresso ao seu lar, em Ítaca. Elementos míticos e provenientes do politeísmo grego antigo são construtos imensamente explorados nessa epopeia, e dão um toque mais do que ficcional à uma história que se tornou conhecida e famosa mesmo após milênios.
Após ser parte essencial na vitória dos gregos sobre os troianos, dentro de um conflito ao qual nunca quis pertencer, o herói Odisseu parte em retorno ao seu lar, Ítaca, onde é regente, e onde deixou sua esposa Penélope, e seu recém-nascido filho Telémaco, por dez longos anos (duração da guerra). Mais uma década se passa no trajeto de regresso, com uma série de infortúnios vivenciados pelo guerreiro, ora ocasionados pelo capricho dos deuses, ora por sua soberba em se julgar mais astuto que os que lhe cercam (o que em várias oportunidades se mostra uma verdade).
Entre o apadrinhamento da deusa Atena, a mediação de Zeus, à ira vingativa de Posídon; do longo cativeiro na ilha da apaixonada ninfa Calipso à fuga bem sucedida do covil do ciclope Polifemo, A Odisseia constitui um dos mais importantes textos da cultura ocidental e tem lugar cativo em qualquer que seja a lista de obras notáveis na história da humanidade.
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES (EMILY BRÖNTE)
Tendo sido o único romance escrito por Emily Brönte, sob o pseudônimo masculino Ellis Bell, Wuthering Heights (título original), à época de seu lançamento recebeu fortes críticas principalmente por sua linguagem informal, uso excessivo de violência e ser de autoria de uma jovem mulher, fatos que conflitavam com a moral da Inglaterra Vitoriana. Contudo, hoje se tornou um clássico inquestionável da literatura inglesa.
Em O Morro dos Ventos Uivantes somos direcionados pelas relações humanas conflitantes de duas gerações de duas famílias interligadas pelo amor, ódio, violência e obsessão. Tais elementos constroem uma narrativa vívida, realista e e muitas vezes maquinada de forma a prender e transportar o leitor para o centro daquele conflito.
Na história, ao retornar de uma viagem o sr. Earnshaw traz consigo um jovem órfão de origem desconhecida, a quem nomeia de Heathcliff, e passa a tratá-lo como filho. Seu filho biológico, Hindley passa a se sentir negligenciado pelo pai, por achar que Heathcliff recebe mais atenção que ele mesmo, filho legítimo. O patriarca é pai também da jovem e bela Catherine, que rapidamente se afeiçoa ao novo morador do lugar.
.Com o passar dos anos, o sr. Earnshaw, já viúvo, vem a falecer deixando seus filhos como os responsáveis pelas posses da família. Hindley então passa a humilhar Heathcliff, e proibi-lo de ver Cathy, já que a essa altura nutriam um mútuo sentimento de paixão. Catherine então casa-se com Edgar Linton, por entender que este teria dinheiro para lhe prover conforto e segurança, ao contrário de Heathcliff. O órfão então parte do lugar, regressando anos mais tarde, rico, e movido pelo sentimento de vingança por toda a humilhação que sofreu no passado, protagonizando uma série de conflitos que culmina em tragédias não intencionais.
Por todo o contexto sociocultural que o romance se insere, subvertendo os valores machistas do século XIX, além da notável capacidade de Brönte de explorar uma psique bastante complexa e por vezes dicotômica de seus personagens, elevando o senso estético das relações interpessoais, O Morro dos Ventos Uivantes figura como um dos maiores clássicos da literatura inglesa, bem explorado pela cultura pop, do cinema à música, fomentando sua incalculável contribuição em solidificar a figura feminina no universo literário.
“Se o amor dela morresse, eu arrancaria seu coração do peito e beberia seu sangue.” Mas diz aí, gostou dessas indicações? O “Dinastia Literária”, estará de volta na próxima semana com mais conteúdo sobre livros e esse multiverso fascinante. Nos siga também em nossas redes sociais para mais conteúdo sobre livros, séries, filmes e tudo que envolve o universo Nerd/Geek.