Questões históricas e culturais, como o machismo estrutural, explicam porque a presença feminina na área de tecnologia ainda é baixa, mesmo com o aumento do número de mulheres atuantes no setor. De acordo com experimento feito em pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Nova York e da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, mulheres e meninas são consideradas 25% menos inteligentes do que os homens, apenas por serem do sexo feminino.
O resultado do estudo publicado na revista American Psychologist surgiu a partir de experimento que avaliou um grupo com 350 pessoas e depois outro com 800 participantes. Eles leram a descrição de um cargo de trabalho e, em seguida, recomendaram duas pessoas conhecidas para o cargo.
Metade de cada grupo precisava fazer a escolha conforme habilidades específicas, como “esforço consistente”, e a outra parte deveria indicar quem fosse mais inteligente. Os pesquisadores encontraram padrões nas respostas dos dois grupos. Mulheres foram as mais selecionadas para trabalhos que demandam habilidades como “grande esforço”, mas menos indicadas para postos que exigiam mais inteligência.
Conforme o professor associado do departamento de Psicologia da Universidade de Nova York e co-autor do estudo, Andrei Cimpian, em entrevista à imprensa, o preconceito em relação à capacidade intelectual ocorre apesar das performances das mulheres no trabalho e na sala de aula.
A primeira autora do estudo, estudante de medicina na Universidade de Illinois, Lin Bian, esclarece que esses preconceitos podem derivar de noções preconcebidas de gênero ensinadas desde a infância e originadas na cultura criada pela sociedade.
Vale ressaltar que, como nas demais áreas, a formação feminina em tecnologia é tão completa quanto a masculina, com conhecimentos de modernas linguagens de programação, como Cascading Style Sheets (CSS), CSS3, entre outras. Além disso, é importante lembrar que as mulheres têm posições de destaque no desenvolvimento da tecnologia, como a matemática inglesa Ada Lovelace, primeira programadora da história.
Avanços são reais, mas é preciso equidade na hierarquia
Uma em cada três pessoas que atuam em empresas de tecnologia ao redor do mundo será uma mulher em 2022, segundo uma pesquisa global feita pela consultoria Deloitte. Contudo, somente uma em cada quatro estará em um cargo técnico. O estudo considera esse avanço representativo, apesar de pequeno.
Conforme o relatório Diversidade no Setor TIC, feito pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), a realidade brasileira é parecida, já que, dos profissionais empregados na área de tecnologia em 2020, 32,6% eram mulheres.
A participação das brasileiras, segundo o estudo, é maior “no meio e no alto da pirâmide das companhias de tecnologia” em termos hierárquicos. Dos cargos de assistente, as mulheres ocupam 41%, e dos postos de coordenador e especialista – um nível antes do topo –, 42%. Já em posições de liderança como diretoria e gerência, os homens seguem sendo maioria, com 67% de presença.
De acordo com a Brasscom, é um pouco maior a disparidade entre os gêneros nos subsetores de serviços e software – área que concentra 76% das contratações em tecnologia. Nesse cenário, segundo o relatório, áreas administrativas, financeiras e de recursos humanos contam com uma presença feminina maior, já funções técnicas têm uma menor participação de mulheres.
A pesquisa feita pela Deloitte aponta para uma mesma direção e mostra que, na força de trabalho em geral, a proporção de mulheres é maior, 32,9%, em comparação à participação em cargos técnicos, 25%. Para o estudo, foi analisado o desempenho de 20 grandes empresas de tecnologia que empregam 100 mil pessoas.
Resultados são percebidos aos poucos
A presença de mulheres na tecnologia cresceu 60% em cinco anos em relação ao movimento do mercado de trabalho. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em 2015, eram 27,9 mil profissionais empregadas e, em 2020, 44,5 mil.
As profissionais brasileiras, além disso, estão se interessando mais pelas vagas na área de tecnologia da informação. Segundo dados do Banco Nacional de Empregos,
concorreram a empregos nesse setor 10.375 candidatas em 2020, número 22,6% menor que em 2021, quando 12.716 mulheres pleitearam um posto de trabalho na área. Destas, 4.318 foram contratadas em janeiro de 2021, marco que representou um aumento de 116% em relação ao ano anterior.
Em prol da diversidade, as empresas globais, principalmente as de grande porte, se esforçam para contratar e promover mulheres, conforme o levantamento da Deloitte, contudo, a consultoria avalia que os resultados estão sendo percebidos aos poucos.
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